São Paulo, Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 1999
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À ESPERA DE BOAS NOVAS

A atuação do Banco Central nos últimos dias, quando passou a intervir no mercado de câmbio, pode ser caracterizada como acomodatícia.
O objetivo maior da autoridade monetária, se não é o de buscar uma redução mais rápida do valor do dólar a níveis considerados satisfatórios, é certamente o de evitar flutuações muito violentas. Embora não haja compromisso formal com um teto para as cotações do dólar, o BC sinaliza assim que também não gostaria de ver a moeda norte-americana valorizar-se em demasia.
É como se o governo caminhasse sobre um fio de navalha. Sem os recursos adicionais do FMI, ainda sob suspeita aos olhos da comunidade financeira internacional, longe ainda de produzir saldos comerciais expressivos e sujeito a um cronograma intenso de vencimento de dívidas no exterior, não há como forçar uma queda imediata do dólar.
Simplesmente a demanda é maior que a oferta, seja porque os compromissos externos estão vencendo e é impraticável renová-los, seja porque a confiança não volta, impedindo uma retomada mais expressiva dos investimentos estrangeiros no Brasil. Nesse contexto, elevar ainda mais os juros para tentar atrair capitais seria visto como atitude, além de desesperada, ineficaz.
As cotações permanecem, portanto, pressionadas. Quanto mais longo o período em que se mantém uma desvalorização nominal da ordem de 70%, com o dólar cotado acima de R$ 2, maiores as pressões inflacionárias. Portanto serão menores, em termos reais, a própria desvalorização e a taxa de juros.
Não é por acaso que voltam a ganhar intensidade as propostas de dolarização da economia brasileira. Afinal, os riscos de autoperpetuação dessa espiral de pressões e compensações entre câmbio, preços e juros são muito significativos.
Só uma onda de boas-novas na área fiscal, na relação com o FMI e no comércio exterior poderia reverter essa perversa espiral da dolarização.


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