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À ESPERA DE BOAS NOVAS
A atuação do Banco Central nos
últimos dias, quando passou a intervir no mercado de câmbio, pode ser
caracterizada como acomodatícia.
O objetivo maior da autoridade monetária, se não é o de buscar uma redução mais rápida do valor do dólar a
níveis considerados satisfatórios, é
certamente o de evitar flutuações
muito violentas. Embora não haja
compromisso formal com um teto
para as cotações do dólar, o BC sinaliza assim que também não gostaria
de ver a moeda norte-americana valorizar-se em demasia.
É como se o governo caminhasse
sobre um fio de navalha. Sem os recursos adicionais do FMI, ainda sob
suspeita aos olhos da comunidade financeira internacional, longe ainda
de produzir saldos comerciais expressivos e sujeito a um cronograma
intenso de vencimento de dívidas no
exterior, não há como forçar uma
queda imediata do dólar.
Simplesmente a demanda é maior
que a oferta, seja porque os compromissos externos estão vencendo e é
impraticável renová-los, seja porque
a confiança não volta, impedindo
uma retomada mais expressiva dos
investimentos estrangeiros no Brasil. Nesse contexto, elevar ainda mais
os juros para tentar atrair capitais seria visto como atitude, além de desesperada, ineficaz.
As cotações permanecem, portanto, pressionadas. Quanto mais longo
o período em que se mantém uma
desvalorização nominal da ordem de
70%, com o dólar cotado acima de
R$ 2, maiores as pressões inflacionárias. Portanto serão menores, em termos reais, a própria desvalorização e
a taxa de juros.
Não é por acaso que voltam a ganhar intensidade as propostas de dolarização da economia brasileira.
Afinal, os riscos de autoperpetuação
dessa espiral de pressões e compensações entre câmbio, preços e juros
são muito significativos.
Só uma onda de boas-novas na área
fiscal, na relação com o FMI e no comércio exterior poderia reverter essa
perversa espiral da dolarização.
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