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Todos contra um
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Fernando Henrique Cardoso bateu a mão na testa e exclamou:
"Que besteira que eu fiz!"
Foi assim (mas não necessariamente
com o suave termo "besteira") que o
presidente admitiu para um ministro
que cometera um equívoco ao chamar
o governador e antecessor Itamar
Franco de Silvério dos Reis.
Tarde demais. Itamar reagiu com
paus e pedras, e o erro de FHC gerou
as mais desbaratadas análises da oposição e dos governistas.
Um jurava que Itamar precisava ser
radicalmente isolado, pois estaria armando uma chegada triunfal à reunião de hoje de FHC com os governadores. Com certeza, roubaria a cena.
Outro contava que FHC havia sido
orientado "por amigos" a enfrentar
Itamar de frente, para fugir da imagem de fraco e recuperar a dianteira.
Houve quem tentasse salvar a pátria
articulando com FHC uma desaprovação em massa dos líderes e vice-líderes
governistas à sua própria fala.
Como ficou mais claro com o passar
dos dias, entretanto, tudo não passou
de um ataque de verborragia de FHC.
Itamar reagiu com ameaças ousadas. Falar em esgotamento das instâncias institucionais, em resistência e
trincheiras soa a golpe. Principalmente depois de ter reunido a PM. E num
país com um passado recente e traumático de quebra da legalidade.
Hoje, enquanto FHC estiver com os
governadores na Granja do Torto, Itamar estará cercado no Palácio da Liberdade por jovens "caras pintadas",
representantes variados da indignação contra o governo federal e políticos arregimentados pelo senador Roberto Requião em diferentes Estados.
Será um teste de forças importante
para medir até que ponto Itamar está
efetivamente isolado. Ou, ao contrário, catalisa descontentamentos e capitaneia setores descontentes.
Nacionalistas, estatizantes, pedetistas, desgarrados e irados em geral podem encontrar aí um ponto de partida. A arrancada seria a favor dos Estados e contra a privatização da Petrobrás. A potência e a velocidade dependem da evolução da crise.
O alvo é a cabeça de FHC. Mas não é
nada fácil chegar lá.
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