São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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A MENSAGEM DO COPOM

Um dos aspectos relevantes da ata da última reunião do Copom, divulgada ontem, foi a admissão, por parte do Banco Central, de que têm fundamento as críticas segundo as quais por vezes a autoridade monetária se equivoca ao utilizar os juros como arma para conter choques de oferta, e não de demanda. Ou seja, de que não adianta, por exemplo, recorrer a juros altos para evitar a elevação de preços de um produto agrícola cuja oferta foi afetada por um problema climático.
Na ata, o Copom reconhece que a "melhor teoria econômica" recomenda "a acomodação parcial de aumentos ao consumidor provocados por choques de oferta". Em português corrente isso significa aceitar que é inevitável alguma pressão inflacionária em casos como o do exemplo acima citado -e isso equivale a admitir que as metas de inflação, nessas circunstâncias, poderiam ser mudadas. Foi o que ocorreu, aliás, em 2003: diante da disparada da cotação do dólar, a meta do ano passado, que estava fixada em 4%, foi reajustada para 8,5%.
O tema é importante porque o BC interrompeu os cortes na taxa básica em janeiro e fevereiro devido justamente a choques de oferta, e não de demanda. As pressões inflacionárias identificadas no início do ano eram fruto de aumentos de preços internacionais de matérias-primas e da alíquota da Cofins, não de uma aceleração insustentável do consumo. Diante disso, o BC foi questionado -entre outros por esta Folha- sobre o sentido de retardar o crescimento e manter os juros altos para tentar cumprir a meta de inflação, de 5,5%.
Na ata publicada ontem, o Copom diz que, teoricamente, aceitaria mudar a meta, mas considera que isso não seria recomendável neste momento. Reconhece que a fraca demanda está impedindo a transmissão dos movimentos altistas do atacado para o varejo -que tanto alarme e polêmica causaram nos últimos dois meses.
A sinalização é positiva, mas ainda excessivamente cautelosa, o que dá margem à dedução de que as autoridades econômicas estariam se contentando com uma retomada ainda lenta e fraca neste 2004, dada a baixa base do ano passado. Quem comprou a idéia de que após um primeiro ano de forte ajuste teria lugar o "espetáculo do crescimento" já deve estar se sentindo iludido.


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