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A MENSAGEM DO COPOM
Um dos aspectos relevantes
da ata da última reunião do
Copom, divulgada ontem, foi a admissão, por parte do Banco Central,
de que têm fundamento as críticas
segundo as quais por vezes a autoridade monetária se equivoca ao utilizar os juros como arma para conter
choques de oferta, e não de demanda. Ou seja, de que não adianta, por
exemplo, recorrer a juros altos para
evitar a elevação de preços de um
produto agrícola cuja oferta foi afetada por um problema climático.
Na ata, o Copom reconhece que a
"melhor teoria econômica" recomenda "a acomodação parcial de aumentos ao consumidor provocados
por choques de oferta". Em português corrente isso significa aceitar
que é inevitável alguma pressão inflacionária em casos como o do
exemplo acima citado -e isso equivale a admitir que as metas de inflação, nessas circunstâncias, poderiam ser mudadas. Foi o que ocorreu, aliás, em 2003: diante da disparada da cotação do dólar, a meta do
ano passado, que estava fixada em
4%, foi reajustada para 8,5%.
O tema é importante porque o BC
interrompeu os cortes na taxa básica
em janeiro e fevereiro devido justamente a choques de oferta, e não de
demanda. As pressões inflacionárias
identificadas no início do ano eram
fruto de aumentos de preços internacionais de matérias-primas e da alíquota da Cofins, não de uma aceleração insustentável do consumo. Diante disso, o BC foi questionado -entre outros por esta Folha- sobre o
sentido de retardar o crescimento e
manter os juros altos para tentar
cumprir a meta de inflação, de 5,5%.
Na ata publicada ontem, o Copom
diz que, teoricamente, aceitaria mudar a meta, mas considera que isso
não seria recomendável neste momento. Reconhece que a fraca demanda está impedindo a transmissão dos movimentos altistas do atacado para o varejo -que tanto alarme e polêmica causaram nos últimos dois meses.
A sinalização é positiva, mas ainda
excessivamente cautelosa, o que dá
margem à dedução de que as autoridades econômicas estariam se contentando com uma retomada ainda
lenta e fraca neste 2004, dada a baixa
base do ano passado. Quem comprou a idéia de que após um primeiro
ano de forte ajuste teria lugar o "espetáculo do crescimento" já deve estar se sentindo iludido.
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