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FERNANDO RODRIGUES
Guerra interna
BRASÍLIA - Há uma guerra surda dentro do governo entre dois ministros palacianos: José Dirceu e Aldo Rebelo. Não há hipótese de essa disputa terminar empatada.
Dirceu foi o mais poderoso ministro
de Lula até 23 de janeiro. Nessa data,
Aldo foi nomeado ministro da Coordenação Política e herdou parte das
atribuições até então exercidas pelo
chefe da Casa Civil -basicamente, a
administração da fisiologia.
José Dirceu sofreu um revés adicional 20 dias depois de perder seu poder formal: o Waldogate estourou em
13 de fevereiro. Hoje, Dirceu está reabilitado no melhor estilo stalinista.
Sua imagem já aparece com freqüência nas fotos do governo Lula. O ministro está feliz (sic), lê-se por aí com
base na versão de assessores.
Aldo Rebelo, do seu lado, assume
cada vez mais suas funções. Atola o
pé na fisiologia porque até Lula já
disse ser inaceitável um "meio ministro" -quando, numa reunião recente, Aldo relutou em assumir certas
missões menos nobres.
Qual é o problema disso tudo? Simples. Não é possível ter um ministro
coordenando a execução das principais obras do governo (Dirceu), passando por chato e intransigente, e outro operando para distribuir aos congressistas a parte gorda das benesses
de todos os ministérios (Aldo). Um
faz o "mal"; o outro, o "bem".
A versão dirceusista sobre o cenário
atual é a seguinte: "Aldo Rebelo não
tem autoridade nem força política. É
de um partido pequeno, o PC do B,
com apenas nove deputados. Muita
gente sai de seu gabinete e dá uma
passada na sala do Zé Dirceu".
Na trincheira de Aldo, a avaliação
é que o ministro foge da imagem de
"puxador do tapete de Dirceu". Não
adianta. Basta que trabalhe e assuma suas atribuições para, na prática,
desidratar o colega da Casa Civil.
A pior coisa que poderia acontecer
a Lula seria uma carnificina no terceiro andar do Palácio do Planalto.
Mas quem produziu esse cenário foi o
próprio presidente, quando nomeou
Aldo e tirou poderes de Dirceu.
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