São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Guerra interna

BRASÍLIA - Há uma guerra surda dentro do governo entre dois ministros palacianos: José Dirceu e Aldo Rebelo. Não há hipótese de essa disputa terminar empatada.
Dirceu foi o mais poderoso ministro de Lula até 23 de janeiro. Nessa data, Aldo foi nomeado ministro da Coordenação Política e herdou parte das atribuições até então exercidas pelo chefe da Casa Civil -basicamente, a administração da fisiologia.
José Dirceu sofreu um revés adicional 20 dias depois de perder seu poder formal: o Waldogate estourou em 13 de fevereiro. Hoje, Dirceu está reabilitado no melhor estilo stalinista. Sua imagem já aparece com freqüência nas fotos do governo Lula. O ministro está feliz (sic), lê-se por aí com base na versão de assessores.
Aldo Rebelo, do seu lado, assume cada vez mais suas funções. Atola o pé na fisiologia porque até Lula já disse ser inaceitável um "meio ministro" -quando, numa reunião recente, Aldo relutou em assumir certas missões menos nobres.
Qual é o problema disso tudo? Simples. Não é possível ter um ministro coordenando a execução das principais obras do governo (Dirceu), passando por chato e intransigente, e outro operando para distribuir aos congressistas a parte gorda das benesses de todos os ministérios (Aldo). Um faz o "mal"; o outro, o "bem".
A versão dirceusista sobre o cenário atual é a seguinte: "Aldo Rebelo não tem autoridade nem força política. É de um partido pequeno, o PC do B, com apenas nove deputados. Muita gente sai de seu gabinete e dá uma passada na sala do Zé Dirceu".
Na trincheira de Aldo, a avaliação é que o ministro foge da imagem de "puxador do tapete de Dirceu". Não adianta. Basta que trabalhe e assuma suas atribuições para, na prática, desidratar o colega da Casa Civil.
A pior coisa que poderia acontecer a Lula seria uma carnificina no terceiro andar do Palácio do Planalto. Mas quem produziu esse cenário foi o próprio presidente, quando nomeou Aldo e tirou poderes de Dirceu.


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