São Paulo, sábado, 26 de abril de 2008

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Intrigas e picuinhas

Rivalidades pessoais ocupam de maneira indevida o quadro da sucessão paulistana, em que falta debate público

O APOIO do PMDB à candidatura de Gilberto Kassab (DEM), que pleiteia sua reeleição à Prefeitura de São Paulo, vem modificar de modo significativo o congestionado quadro da sucessão municipal.
Com a aliança, mais do que duplica o tempo de propaganda disponível para Kassab no horário eleitoral. Frustram-se com isso os projetos de uma coligação entre o PT e o PMDB, que proporcionaria folgada vantagem à virtual candidata Marta Suplicy na distribuição dos minutos gratuitos no rádio e na TV.
É a candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin, entretanto, a principal atingida pelo acordo peemo-demista. Kassab e Alckmin disputam o voto dos eleitores que se opõem à candidatura Marta Suplicy e ao PT. Na última pesquisa do instituto Datafolha, Alckmin e Marta estão praticamente empatados, com índices de 28% e 29%, enquanto o atual prefeito não obtém mais do que 13% das preferências para o primeiro turno.
Apesar do bom desempenho de Alckmin nas pesquisas, para o qual contribui a memória de sua candidatura à Presidência da República em 2006 (quando já no primeiro turno obteve 53% dos votos no município de São Paulo, contra 35% de Lula), cresce o desconforto do prefeiturável peessedebista.
Minado dentro de seu próprio partido, não conta a não ser com a própria obstinação e com o apoio de um reduzido grupo de apoiadores para enfrentar o cerco do governador José Serra.
Este, como se sabe, tem predominância no secretariado de Kassab -que foi seu vice na prefeitura- e vê garantidas, com o prefeito demista, as linhas de sua própria gestão.
Considerado, ademais, o arquiteto da aproximação entre o PMDB e Kassab, José Serra consegue a vantagem adicional de prejudicar os entendimentos entre o peemedebismo e Aécio Neves, seu rival nas eleições presidenciais de 2010.
Não deixa de haver certo fascínio nessas crônicas rivalidades peessedebistas, em que gélidas vendetas se ocultam sob suaves colóquios de sacristia.
Por mais interessante que seja esse misto de compostura exterior e dilaceramento interno, os dramas domésticos do tucanato ocupam o noticiário em razão de uma deficiência lamentável, a de um real debate público em torno da sucessão paulistana.
Se Geraldo Alckmin pretende ser candidato do PSDB à prefeitura, que críticas tem a fazer à gestão Kassab? Que pontos, em sua opinião, teriam traído nestes últimos tempos o projeto tucano para a metrópole? Que projeto, aliás? A pergunta bem que poderia, de resto, ser dirigida a Serra e ao próprio prefeito.
Tanto no plano municipal como no federal, que promete ser igualmente anuviado, o entrechoque de personalismos dentro do PSDB só teria como resolver-se, do ponto de vista do interesse público geral, por meio de prévias, convenções ou debates públicos, que projetassem a intriga política subterrânea para a luz do dia e para o plano das discussões que realmente importam.


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