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Intrigas e picuinhas
Rivalidades pessoais ocupam de maneira indevida o quadro da sucessão paulistana, em que falta debate público
O APOIO do PMDB à candidatura de Gilberto
Kassab (DEM), que
pleiteia sua reeleição à
Prefeitura de São Paulo, vem
modificar de modo significativo
o congestionado quadro da sucessão municipal.
Com a aliança, mais do que duplica o tempo de propaganda disponível para Kassab no horário
eleitoral. Frustram-se com isso
os projetos de uma coligação entre o PT e o PMDB, que proporcionaria folgada vantagem à virtual candidata Marta Suplicy na
distribuição dos minutos gratuitos no rádio e na TV.
É a candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin, entretanto, a principal atingida pelo
acordo peemo-demista. Kassab e
Alckmin disputam o voto dos
eleitores que se opõem à candidatura Marta Suplicy e ao PT. Na
última pesquisa do instituto Datafolha, Alckmin e Marta estão
praticamente empatados, com
índices de 28% e 29%, enquanto
o atual prefeito não obtém mais
do que 13% das preferências para
o primeiro turno.
Apesar do bom desempenho
de Alckmin nas pesquisas, para o
qual contribui a memória de sua
candidatura à Presidência da República em 2006 (quando já no
primeiro turno obteve 53% dos
votos no município de São Paulo,
contra 35% de Lula), cresce o
desconforto do prefeiturável
peessedebista.
Minado dentro de seu próprio
partido, não conta a não ser com
a própria obstinação e com o
apoio de um reduzido grupo de
apoiadores para enfrentar o cerco do governador José Serra.
Este, como se sabe, tem predominância no secretariado de
Kassab -que foi seu vice na prefeitura- e vê garantidas, com o
prefeito demista, as linhas de sua
própria gestão.
Considerado, ademais, o arquiteto da aproximação entre o
PMDB e Kassab, José Serra consegue a vantagem adicional de
prejudicar os entendimentos entre o peemedebismo e Aécio Neves, seu rival nas eleições presidenciais de 2010.
Não deixa de haver certo fascínio nessas crônicas rivalidades
peessedebistas, em que gélidas
vendetas se ocultam sob suaves
colóquios de sacristia.
Por mais interessante que seja
esse misto de compostura exterior e dilaceramento interno, os
dramas domésticos do tucanato
ocupam o noticiário em razão de
uma deficiência lamentável, a de
um real debate público em torno
da sucessão paulistana.
Se Geraldo Alckmin pretende
ser candidato do PSDB à prefeitura, que críticas tem a fazer à
gestão Kassab? Que pontos, em
sua opinião, teriam traído nestes
últimos tempos o projeto tucano
para a metrópole? Que projeto,
aliás? A pergunta bem que poderia, de resto, ser dirigida a Serra e
ao próprio prefeito.
Tanto no plano municipal como no federal, que promete ser
igualmente anuviado, o entrechoque de personalismos dentro
do PSDB só teria como resolver-se, do ponto de vista do interesse
público geral, por meio de prévias, convenções ou debates públicos, que projetassem a intriga
política subterrânea para a luz
do dia e para o plano das discussões que realmente importam.
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