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RUY CASTRO
Terra, mar e ar
RIO DE JANEIRO - No último domingo, no Paraná, o padre Adelir de
Carli atrelou-se a mil balões de festa cheios de gás hélio e soltou-se no
espaço, disposto a bater o recorde
mundial de permanência no ar nessa categoria de balonismo. Deve ter
batido porque, até este momento,
não regressou à base. Mas há razões
para temer que ele não poderá saborear sua façanha no "Guinness".
Na terça-feira à noite, um terremoto de 5,2 graus na escala Richter
sacudiu São Paulo, assustando milhões e provocando faniquitos nos
Estados vizinhos. Pode ter sido
aterrador pelo ineditismo, mas não
vamos nos jactar. Em termos internacionais, a gradação foi tão mixuruca que, num mano a mano com os
números de Tóquio, Los Angeles e
Istambul, o tremor de São Paulo
não pegaria nem aspirante.
Por fim, na manhã de quinta, tivemos o tsunami de Niterói -na
verdade, apenas uma super-ressaca, mas que provocou ondas de três
metros na baía de Guanabara e quase afundou um catamarã com centenas de passageiros. Poderia ter sido uma tragédia, mas não foi. Por
isso, os surfistas tiraram as pranchas dos armários, atiraram-se ao
mar e fizeram a festa.
Se acreditasse nessas coisas, eu
diria que alguma estamos aprontando, para que o perigo nos ronde
em terra, mar e ar. Mas parece não
haver relação entre essas quase calamidades. Os técnicos garantem
que o maremoto não foi causado
pelo terremoto. E espera-se que nenhum dos dois tenha sido causado
pelo voluntarismo e pela imodéstia
do padre.
Uma antiga coleção de livros de
aventuras, que toda a minha geração leu, chamava-se "Terramarear". Fosse num deles, quando a
terra começasse a tremer e as ondas
se jogassem em fúria contra a orla, o
padre surgiria cavalgando os céus,
suspenso por seus balões coloridos,
e poria a natureza em seu lugar.
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