|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Uma toga em questão
RIO DE JANEIRO - Sem entrar
no mérito técnico do problema -se
acaso houve algum-, acredito que
já é hora de avisarem ao presidente
do Supremo Tribunal Federal que
ele não está agradando. E não é de
agora essa constatação nacional.
Basta abrir sua suculenta página no
Google para tomarmos conhecimento de sua carreira polêmica -à
falta de classificação mais apropriada, ressalte-se o caráter polêmico
de sua personalidade pública.
Desde a sua indicação para o STF,
desde a sua passagem pela AGU, em
tudo o que fez ou deixou de fazer
causou irritação e pasmo, sobretudo nos meios jurídicos do país.
Prestou serviços também polêmicos ao governo de Fernando Henrique Cardoso e provocou até mesmo
pedidos de impeachment, que não
foram adiante devido ao rolo compressor que ele próprio ajudou a
criar durante o tucanato.
Impressionante a sua mania de
dar opinião sobre qualquer assunto,
antecipando inclusive juízos sobre
causas que não chegaram a ser processadas, contrariando a tradição
secular segundo a qual um juiz só se
manifesta nos autos.
Impressionante também a sua
gula pela visibilidade. Disse bem o
ministro Joaquim Barbosa: o presidente do STF está na mídia, vulgarizando o Poder Judiciário -ou destruindo-o, segundo a acusação feita
em alto som no plenário daquele
tribunal e divulgada à saciedade pela televisões.
Os oito ministros que assinaram
nota de solidariedade ao presidente
daquela corte tiveram o propósito
saudável de preservar a instituição
de uma crise que pode ter desdobramentos imprevisíveis.
A opinião pública, estarrecida
com o escândalo das passagens às
famílias de alguns congressistas, ficou sabendo que até mesmo no Judiciário a lama respingou numa toga que, apesar de preta, deve permanecer imaculada.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O imponderável Próximo Texto: Emílio Odebrecht: O compromisso de cada um Índice
|