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O CASO DA ALCA
A complexidade da criação da
Área de Livre Comércio das
Américas (Alca) não permite que a
proposta seja simplesmente afastada
por simplificações como a de que
constituiria uma "anexação" de países por parte dos Estados Unidos. Se
é verdade que a desproporção entre a
economia dos EUA e as demais da
região sugere vantagens para o mais
forte, estudos também têm demonstrado que há convergência de interesses em diversos setores, com ganhos para todos.
O atual governo, como era previsível, tem assumido uma série de posicionamentos, alguns herdados da
gestão anterior, no sentido de conferir à negociação um caráter menos
assimétrico. Procura, corretamente,
reforçar a posição do país na liderança do Mercosul e trabalha para um
acordo entre o bloco regional e a
União Européia. Ao mesmo tempo,
mantém-se atento aos interesses do
Brasil no âmbito da Organização
Mundial de Comércio (OMC).
O que se tem, na prática, usando
uma imagem do chanceler Celso
Amorim, é um processo único que se
desenvolve em três tabuleiros
-América, Europa e OMC. A agenda desses acordos, no entanto, não é
coordenada. Questões fundamentais
para os interesses do Brasil na Alca,
como os subsídios a produtos agrícolas nos EUA, por exemplo, não poderão avançar, caso não tenham solução na chamada Rodada de Doha
da OMC. Para que isso ocorra, no entanto, é indispensável o concurso da
União Européia, cujo "timing", por
sua vez, sugere um alongamento dos
prazos de negociação.
Se é correta a reivindicação brasileira sobre a questão agrícola e se é um
fato que as agendas são desencontradas, isso não deve, no entanto, levar
o país simplesmente a voltar as costas para o acordo. É preciso que o governo tenha uma avaliação mais acurada das vantagens e desvantagens
da proposta e das consequências que
podem advir de uma decisão americana de atrair os demais atores através de acordos bilaterais.
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