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SAÍDA FISIOLÓGICA
Todo governo precisa de
maioria parlamentar, a qual,
entretanto, raramente é obtida por
um único partido. Daí a necessidade
de formar coalizões e manter acordos políticos, que podem ser celebrados em diversas bases.
Em termos ideais, o entendimento
se dá em nível programático. O partido B empresta seu apoio à legenda A,
a mais bem votada nas eleições, por
concordar com o principal de sua
plataforma. As duas agremiações negociam a inclusão de alguns pontos
do programa do partido B no plano
de governo, e ambos passam a ser
sócios na coalizão. Dividem cargos,
mas também ônus políticos e a responsabilidade de ser governo.
No Brasil, contudo, entendimento
político é quase sempre sinônimo
apenas de cargos. Na novilíngua da
política nacional, negociar uma
maioria parlamentar é dar cargos ao
PMDB, que se tornou, nos últimos
anos, um exército parlamentar de reserva, disposto a emprestar sua base
de sustentação a todo governo, seja
qual for seu espectro ideológico, capaz de oferecer recompensas.
O detalhe perverso é que o fato de o
governo ter fechado um acordo com
o PMDB não significa necessariamente que vá receber os votos do partido. Parlamentares da legenda cobrarão "spreads" que crescem na
mesma proporção da importância
da matéria a ser aprovada.
Essa é, infelizmente, a regra do jogo. Constate-se que o PT de Lula, que
historicamente desempenhou o papel de crítico das instituições políticas brasileiras, dispôs-se a jogá-lo,
como o fizera o PSDB de Fernando
Henrique. Foi o que mostrou a lista
de cargos oferecidos ao PMDB publicada pela Folha. A alternativa seria o
imobilismo político, mas nem tudo
pode ser apenas pragmatismo. O PT,
se quiser honrar sua história, não poderá, como os governos anteriores,
acomodar-se ao jogo fisiológico. O
partido deverá reunir fôlego para lançar as bases de uma reforma política
que reforce o poder dos partidos e
contribua para transformar o tradicional "toma lá dá cá" numa relação
política mais saudável.
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