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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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SAÍDA FISIOLÓGICA

Todo governo precisa de maioria parlamentar, a qual, entretanto, raramente é obtida por um único partido. Daí a necessidade de formar coalizões e manter acordos políticos, que podem ser celebrados em diversas bases.
Em termos ideais, o entendimento se dá em nível programático. O partido B empresta seu apoio à legenda A, a mais bem votada nas eleições, por concordar com o principal de sua plataforma. As duas agremiações negociam a inclusão de alguns pontos do programa do partido B no plano de governo, e ambos passam a ser sócios na coalizão. Dividem cargos, mas também ônus políticos e a responsabilidade de ser governo.
No Brasil, contudo, entendimento político é quase sempre sinônimo apenas de cargos. Na novilíngua da política nacional, negociar uma maioria parlamentar é dar cargos ao PMDB, que se tornou, nos últimos anos, um exército parlamentar de reserva, disposto a emprestar sua base de sustentação a todo governo, seja qual for seu espectro ideológico, capaz de oferecer recompensas.
O detalhe perverso é que o fato de o governo ter fechado um acordo com o PMDB não significa necessariamente que vá receber os votos do partido. Parlamentares da legenda cobrarão "spreads" que crescem na mesma proporção da importância da matéria a ser aprovada.
Essa é, infelizmente, a regra do jogo. Constate-se que o PT de Lula, que historicamente desempenhou o papel de crítico das instituições políticas brasileiras, dispôs-se a jogá-lo, como o fizera o PSDB de Fernando Henrique. Foi o que mostrou a lista de cargos oferecidos ao PMDB publicada pela Folha. A alternativa seria o imobilismo político, mas nem tudo pode ser apenas pragmatismo. O PT, se quiser honrar sua história, não poderá, como os governos anteriores, acomodar-se ao jogo fisiológico. O partido deverá reunir fôlego para lançar as bases de uma reforma política que reforce o poder dos partidos e contribua para transformar o tradicional "toma lá dá cá" numa relação política mais saudável.


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