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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Ainda os radicais

BRASÍLIA - Que mal há em mostrar um vídeo de 16 anos atrás? Para o PT, o fato é gravíssimo.
Um deputado, João Fontes (PT-SE), exibiu na semana passada uma gravação em vídeo de um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 1987. Havia ali ataques aos hoje aliados José Sarney (PMDB) e Paulo Maluf (PP), à TV Globo, aos bancos e um discurso contraditório com o atual sobre reforma da Previdência. Nenhuma novidade.
Para o PT, não. Foi uma traição, um ataque torpe à figura do presidente da República. O deputado mais influente da bancada petista no Congresso, professor Luizinho (SP), comparou o fato "ao caso Miriam Cordeiro", da campanha de 1989.
Para quem não se lembra, Cordeiro apareceu na TV dizendo que Lula havia sugerido no passado que ela abortasse uma filha de ambos. Foi devastador para o então candidato petista a presidente, depois derrotado por Fernando Collor.
Não vale a pena elaborar sobre o exagero das comparações que a cúpula petista faz. O relevante nesse caso dos radicais petistas -que, juntos, não enchem uma kombi- é que a direção do PT não vai transigir.
Nas convenções nacionais do PT, cerca de 30% dos votos são da chamada esquerda do partido. É possível que dos 93 deputados petistas, cerca de 30 sejam ou se considerem de esquerda. É curioso, mas compreensível, que só cerca de meia dúzia apareçam na mídia para vociferar contra a reforma da Previdência.
Quase toda a bancada dos ditos radicais está acomodada com promessas de apoio para as eleições municipais do ano que vem, cargos federais nos Estados e outras benesses. Alguns não aceitaram fazer acordo. Por isso, estão na mídia.
Ao fim do processo, menos de dez deputados ficarão de fato contra reformar a Previdência. Só uns três ou quatro se recusarão a votar com o governo -esses deixarão o PT espontaneamente ou serão expulsos.


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