|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PRINCÍPIOS E PRAGMATISMO
A China é bem mais do que um
"shopping de oportunidades",
mas não há como negar a importância que o mercado do gigante asiático representa para o Brasil. A viagem
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China é uma iniciativa oportuna,
que tem valor comercial e mesmo estratégico, num momento em que é
preciso diversificar parceiros, abrir
novas frentes de negócios e encontrar outros eixos de inserção.
Essas considerações de ordem econômica e geopolítica, porém, não
bastam para justificar o silêncio do
presidente Lula em relação a temas
sensíveis como o amplo histórico de
desrespeito das autoridades chinesas
aos direitos humanos e a odiosa invasão do Tibete a mando de Pequim.
É claro que ninguém espera que
Lula atue como um ativista da Anistia
Internacional e constranja seus anfitriões denunciando casos de presos
políticos. Ninguém em sã consciência imagina que o presidente brasileiro vá fazer greve de fome na praça
Tiananmen pela restauração da independência tibetana. Ainda assim,
Lula poderia ter tocado nessas questões, pressionando os dirigentes chineses dentro dos limites da boa educação e sem ferir demais o cerimonial. O que ele fez, porém, o comunicado conjunto que assinou, mais se
assemelha a uma defesa das atrocidades do que a uma condenação diplomaticamente digerível.
Vale lembrar que a pressão difusa
exercida por governos estrangeiros
foi um dos fatores que levou o regime militar brasileiro a decidir-se pela
abertura, na primeira metade dos
anos 80. Em algum grau, o próprio
Lula é um beneficiário das cobranças
que vieram de fora.
Uma boa política externa precisa
encontrar um ponto de equilíbrio entre o apego aos princípios e o pragmatismo. O Brasil não deve achar
que vai consertar o mundo através
das declarações do presidente Lula
nem pode desconsiderar, em seu trato com outras nações, todos os escrúpulos morais, focalizando apenas
os resultados comerciais. O governo,
ao que parece, ainda não foi capaz de
encontrar esse equilíbrio.
Texto Anterior: Editoriais: SINAL AMARELO Próximo Texto: Editoriais: TRIBUTO DESVIRTUADO Índice
|