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ANTONIO DELFIM NETTO
Os erros do Banco Central
O Banco Central tem sido um
dos maiores entraves ao bom desempenho da economia brasileira.
Seu "terrorismo" inflacionário, sua incapacidade de aproveitar os momentos conjunturais favoráveis e seu comportamento excessivamente cauteloso
são os principais fatores que permitiram que se criasse a atual sensação vigente em todo o sistema financeiro: a
de que a relação dívida líquida do setor público/PIB sugere, inevitavelmente, o "default" da dívida interna. É
verdade que esse mau humor se deve
também à incrível colocação das LFTs
de prazos mais longos que o Tesouro
"empurrou" num mercado que é facilmente seduzido por um aumento
da rentabilidade mesmo quando os
riscos são crescentes. Foi a combinação de um governo apressado em melhorar a "qualidade" da sua dívida
com um mercado pouco preparado
para a avaliação de riscos que impôs o
estresse atual.
É claro que enfrentamos hoje um
ambiente externo mais hostil, mas as
prioridades do Banco Central estão
evidentemente equivocadas porque,
ao minimizar o "risco de inflação", ele
maximiza os riscos de instabilidade da
relação dívida líquida/PIB e dá suporte à equivocada impressão que hoje
domina o sistema financeiro interno e
externo.
O comportamento do Copom no
dia 19 de maio foi exemplar. Enquanto
os ministérios do Planejamento, da
Fazenda e do Desenvolvimento (e o
próprio presidente no discurso dos
"500 dias") se esforçavam para mostrar que a situação da economia está
melhorando e que estamos com uma
"blindagem externa" ligeiramente
melhor, a não-redução da taxa Selic
foi uma eloqüente demonstração de
que não é esse o pensamento dos
"cientistas" do Banco Central.
Depois de ter perdido a oportunidade de colocar papéis no mercado externo e de ter deixado de aproveitar o mercado interno para aumentar nossas reservas quando o "risco Brasil"
era metade do atual, de ter perdido a
oportunidade de já estarmos com
uma taxa Selic que sugerisse uma taxa
de juro real da ordem de 6% ou 7% e
depois de divulgar em janeiro que o
IGP-DI estava grávido de pequenos
IPCAs, afirma, agora, que o aumento
do preço mundial do petróleo e o
comportamento do senhor Greenspan (que o BC afirmara já estar "precificado" na ata do Copom anterior)
exigem ainda mais cautela...
O aumento do preço do petróleo poderá mesmo elevar a taxa de inflação,
mas ela seguramente ficará dentro das
"margens de segurança de 2,5% para
cima ou para baixo da meta", o que
sugere que deveríamos reconvertê-la
(se for o caso) num prazo maior do
que o horizonte gregoriano, continuando a reduzir a taxa de juro real. A
indicação do Banco Central é oposta:
"Se houver isso, o remédio será aumentar a taxa de juros e reduzir o ritmo de crescimento". Em outras palavras, criar ainda mais desconfiança
sobre a solvabilidade da dívida interna! Exigir mais esforço fiscal! Sem falar no que pode acontecer com a taxa
de câmbio se houver mesmo um estreitamento do financiamento externo. É, portanto, o próprio comportamento assustado do BC que influencia
a taxa Swap-DI de 360 dias e aumenta
a volatilidade.
Ou a política monetária mostra
maior consistência em relação à realidade ou a descrença que ela tem criado acabará realizando a falsa profecia...
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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