São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2004

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GABRIELA WOLTHERS

O avanço do retrocesso

RIO DE JANEIRO - Mais três bebês morreram contaminados por bactérias em uma maternidade do Rio de Janeiro. Agora, já são pelo menos 18 bebês mortos só neste mês de maio.
É bom ressaltar que são "pelo menos" 18, pois a Secretaria Municipal de Saúde e a Vigilância Sanitária do Estado só confirmaram os casos depois de noticiados pela imprensa. Desses, 17 estavam internados em hospitais municipais do Rio, que vem a ser a segunda maior e mais desenvolvida cidade do Brasil.
A maioria dos bebês mortos era de prematuros. Eram mais frágeis do que os chamados "bebês a termo" e, por isso mesmo, corriam mais riscos. Risco de não conseguir respirar direito, risco de o aparelho digestivo não estar em pleno funcionamento, risco de perder muito peso por não ter força para se alimentar. Exatamente por isso estavam internados.
Mas o que era para ser uma garantia maior de sobrevivência acabou sendo a causa da morte. Os 18 bebês morreram não porque apresentaram piora em seu estado de saúde. Morreram porque foram contaminados. Frise-se: foram contaminados dentro dos hospitais, lugar que as pessoas procuram confiantes de que encontrarão melhores condições de se tratar do que em casa.
Não foi o que aconteceu. A medicina foi uma das áreas que mais apresentou avanços nas últimas décadas. Mas, por negligência -e não por falta de tecnologia-, é bem possível que uma das mães que perderam seus filhos esteja se perguntando: será que ele ainda estaria vivo se eu tivesse optado por dar à luz com uma parideira, bem longe do hospital?


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