São Paulo, quarta-feira, 26 de maio de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Preservando a democracia na Venezuela

ROGER F. NORIEGA

A Venezuela, por muitos anos uma das mais estáveis democracias e um dos amigos mais confiáveis dos Estados Unidos na América Latina, encontra-se em uma encruzilhada. O aprofundamento da polarização e da intolerância política colocaram grande pressão sobre suas instituições democráticas.
Os próximos dias representam um momento definitivo no futuro das instituições democráticas da Venezuela, um assunto que preocupa não apenas os venezuelanos, mas também toda a região. A partir de sexta-feira, 1,2 milhão de venezuelanos poderão reconfirmar suas assinaturas em petições que buscam um referendo constitucional na Presidência de Hugo Chávez. O chamado processo de "reparo" oferece aos venezuelanos uma importante oportunidade de resolver sua crise através de meios "constitucionais, democráticos, pacíficos e eleitorais" demandados pela OEA (Organização dos Estados Americanos).


Pedimos ao governo venezuelano que crie uma atmosfera em que os cidadãos possam expressar suas opiniões


Observadores internacionais têm expressado sérias preocupações de que o governo venezuelano esteja tentando inibir o direito constitucional do povo de ter suas assinaturas contadas. No ano passado, o esforço de apoio à petição de referendo resultou na coleta de 3,4 milhões de assinaturas -muito mais do que os 2,4 milhões exigidos pela Constituição-, em um processo considerado livre e justo pela OEA e pelo Centro Carter. Apesar disso, uma decisão controversa da Corte Eleitoral Nacional, CEN, que foi criticada por observadores da OEA e do Centro Carter, resultou na exclusão arbitrária de 800 mil assinaturas. Essas assinaturas agora serão sujeitadas a um segundo estágio de verificação, o chamado processo de "reparo".
Em seu crédito, o povo venezuelano está fazendo uso de suas fortes tradições democráticas ao participar desse processo. Na verdade, para vencer a atmosfera de confrontação e devolver a integridade a suas instituições democráticas, é essencial que a vontade política do povo da Venezuela seja respeitada.
Instamos a CEN a administrar um processo justo e crível, que produza resultados em tempo razoável, e pedimos ao governo venezuelano que crie uma atmosfera em que os cidadãos possam expressar suas opiniões livres de medo ou intimidação. O governo e as autoridades de segurança pública têm uma obrigação especial de respeitar e defender os venezuelanos enquanto eles exercitam seus direitos constitucionais. Também solicitamos que todos os venezuelanos rejeitem a violência, que é incompatível com o exercício da democracia.
Os Estados Unidos e a comunidade internacional apóiam as aspirações democráticas do povo venezuelano. Nós reforçamos nosso apoio ao importante trabalho das missões de observadores da OEA e do Centro Carter, que são fundamentais para assegurar o processo de "reparo".
O Grupo de Amigos da Missão do Secretário-Geral da OEA para a Venezuela, presidido pelo Brasil e inclui Chile, México, Portugal, Espanha e Estados Unidos, como também a União Européia, tem emitido fortes apelos de apoio à democracia na Venezuela. Esses países e organizações, juntamente com muitas ONGs internacionais, vão acompanhar o "reparo" com grande interesse.
O processo de referendo na Venezuela também vai testar o compromisso da região com o Acordo Interamericano pela Democracia, o mapa das nações da OEA para promover e defender a democracia em todo o hemisfério. Os Estados Unidos continuarão a trabalhar com nossos parceiros hemisféricos em apoio à democracia venezuelana.
Nós também estamos dispostos a restaurar as boas relações que tradicionalmente sempre tivemos com a Venezuela, relacionamento esse que foi danificado pela retórica inflamada do governo. Os povos da Venezuela e dos Estados Unidos compartilham um forte e mútuo compromisso com a democracia, e nós vamos continuar a nos apoiar nos nossos valores compartilhados nos próximos dias.
Por muitos anos, sucessivos governos venezuelanos promoveram a democracia em todo o Caribe e na América do Sul. Agora é a hora da necessidade do povo da Venezuela. Nós não devemos desapontá-los.

Roger F. Noriega é secretário-adjunto de Estado dos EUA para Assuntos do Hemisfério Ocidental.


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