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Mais descrédito
É constrangedor uma CPI
não ser capaz de extrair
algo relevante de
alguém como Delúbio,
que tem muito a explicar
ANTEONTEM o Congresso Nacional simplesmente desistiu de investigar as denúncias
sobre a máfia dos sanguessugas.
A decisão torna sem efeito a sindicância da Câmara, em funcionamento há 15 dias, para apurar
o caso e torna improvável a instalação de CPI para o mesmo
efeito. Ontem o plenário da Casa
livrou da cassação o deputado
Vadão Gomes, o 11º "mensaleiro" a receber o aval de seus pares.
Se o objetivo dessas medidas é
desmoralizar o Congresso, os
parlamentares estão no caminho
certo. Embora a experiência recente mostre que há muito mais
a esperar de uma investigação
empreendida pelo Ministério
Público, é inaceitável que o Legislativo se recuse a investigar
denúncias que envolvem nada
menos que 283 congressistas.
Infelizmente, nem mesmo
quando parecem dispostos a
cumprir seu papel deputados e
senadores apresentam melhor
desempenho. Na terça-feira, a
comissão que investiga irregularidades com os bingos e suas relações com campanhas eleitorais
foi incapaz de extrair qualquer
revelação importante do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Delúbio negou a utilização de
caixa dois na campanha eleitoral
de 2002, refutou a existência de
doações de campanha vindas de
Cuba e poupou o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de qualquer
responsabilidade pelos ilícitos
praticados pelo PT. O ex-tesoureiro desmentiu também as declarações do ex-dirigente do partido Silvio Pereira, segundo o
qual o plano do partido era
amealhar R$ 1 bilhão em parceria com Marcos Valério.
Chega a ser constrangedor que
parlamentares, investidos de
prerrogativas extraordinárias de
investigação, sejam incapazes de
extrair algo relevante de alguém
como Delúbio, que obviamente
tem muito a explicar. Nenhuma
informação nova que ao menos
pusesse a testemunha em contradição foi apurada pelos senadores. O tédio dominou a sessão.
Ontem, uma nova demonstração de inabilidade parlamentar
foi transmitida ao vivo. Foi deprimente a acareação entre os
advogados suspeitos de contribuir com o crime organizado,
Sérgio Wesley da Cunha e Maria
Cristina Rachado, e o técnico de
som Arthur Vinícius Silva -que
os acusa de ter comprado gravações de uma sessão secreta da
CPI do Tráfico de Armas. A sessão, marcada por insultos, teve
seu clímax na prisão teatral de
Cunha, por desacato à comissão,
após ter respondido com ironia
acintosa a uma provocação também acintosa de um deputado.
CPIs não podem ser reduzidas
a instrumentos de exibição eleitoral para deputados e senadores. Talvez seja ingênuo pedir
mais compostura e eficiência na
atuação dos congressistas, mas
isso é o que seria necessário para
restaurar a credibilidade da nobre função que exercem.
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