São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2006 |
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CLÓVIS ROSSI O crime e o círculo de ferro SÃO PAULO - Parece que a opinião pública, pelo menos aquela
que se manifesta pelos jornais e/ou
aos jornalistas, dividiu-se em duas
partes. Há os que pedem, a gritos,
"matem e esfolem" (todos os suspeitos de qualquer coisa). E há os
que pedem, também com certo ruído, que sejam respeitados os direitos até dos criminosos, que os têm.
Nesse bate-boca, foi para o ralo o
momento de procurar respostas
adequadas às dimensões da tragédia ocorrida em São Paulo.
O que fazer? Não sou especialista,
mas volto a José Alexandre
Scheinkman, um dos mais instigantes cérebros acadêmicos do Brasil,
raro economista capaz de pensar
além dos números.
No domingo, nesta Folha,
Scheinkman desenhou o círculo de
ferro da crise de segurança pública.
De um lado, diminuir a desigualdade seria essencial, "e não somente
por causa do seu efeito no crime",
escreveu.
Bingo. Mas a desigualdade cai em
conta-gotas, quando é tão colossal
que seria preciso reduzi-la ao menos em canecas, talvez em baldes.
Depois, é preciso aumentar o efetivo policial. "Nos anos 90, o número de policiais per capita cresceu
14% nos EUA e 45% em Nova York,
e a melhor estimativa atribui mais
de um quarto da queda da criminalidade na cidade ao aumento do
contingente policial", escreve o
acadêmico.
De acordo, mas como se faz para,
ao mesmo tempo, combater a desigualdade, aumentar o número de
policiais (e, obviamente, o gasto
com eles) e preservar o superávit
fiscal necessário para pagar os juros obscenos da obscena dívida
brasileira? Ajuda-memória: em
2005, o governo pagou R$ 146 bilhões em juros da dívida pública.
Parece um círculo de ferro, irrompível, mas ausente do debate.
Com isso, a insegurança continua
presente, muito presente.
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