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A Igreja e os índios
NESTA SEMANA, na praça
São Pedro, o papa Bento
16 publicou a primeira
"rectificatio" relativa a sua viagem ao Brasil. "As lembranças de
um passado glorioso não podem
ignorar as sombras que acompanharam o processo de evangelização do continente latino-americano", declarou. "De fato, não é
possível esquecer o sofrimento e
as injustiças impostas pelos colonizadores", acrescentou.
A emenda é bem-vinda. Em
seu último discurso no Brasil, o
papa cometera um erro historiográfico ao afirmar que "o anúncio de Jesus e do seu Evangelho
não supôs, em qualquer momento, uma alienação das culturas
pré-colombianas, nem foi uma
imposição de cultura alheia".
Se há um ponto na história sobre o qual não pairam dúvidas é o
de que o encontro das civilizações européia e ameríndia foi
quase fatal para a segunda -física e espiritualmente.
Daí não se segue, como sugeriram Hugo Chávez e Evo Morales,
que a colonização do continente
não tenha passado de um "Holocausto mais grave que o da Segunda Guerra Mundial". Embora os resultados tenham sido trágicos, o empenho dos catequizadores não era apenas destrutivo.
Ao contrário, há boas razões para
acreditar que a maioria dos padres julgava fazer um bem aos índios ao convertê-los, ainda que
sob forte constrangimento.
Mais do que isso, deve-se reconhecer que a colonização, da
qual a igreja foi agente importante, encerra em si uma dialética
entre destruição e progresso.
Quando duas culturas tão díspares se encontram, a mais vulnerável delas tende a sofrer violentas transformações -e isso é
inevitável. A única alternativa é,
a exemplo do que se faz hoje com
as poucas comunidades aborígenes isoladas restantes, evitar
qualquer contato. Mas mesmo
essa opção não está livre de sérios dilemas morais.
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