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CLÓVIS ROSSI
Ânimo, não estamos sós
PARIS - Acredite, meu caro, a classe política italiana está mais podre
que a nossa, conforme informações
publicadas ontem pelo jornal espanhol "El País".
Aproveito, aliás, para manifestar
a inveja que sinto de dois jornalistas
italianos do "Corriere della Sera"
por terem achado a designação e a
descrição certas para os políticos
italianos, que servem à perfeição
para os brasileiros. O título do livro
é "La Casta", e o subtítulo, "assim os
políticos italianos se tornaram intocáveis". Vale lá, vale no Brasil.
Ainda mais que, segundo "El
País", o tema central do livro é "o
custo dos políticos e os inúmeros
casos de corrupção institucional,
abuso de poder e nepotismo". Nada,
portanto, que não seja familiar aos
brasileiros.
Ousaria dizer, no entanto, que,
em matéria de mordomia, os conterrâneos de meu avô são imbatíveis: a Presidência, basicamente decorativa em sistema parlamentarista, dispõe de 13 aviões, dos quais
quatro são Boeings-737, mas gastou
mesmo assim 65 milhões (cerca
de R$ 170 milhões) em aluguel de
aviões adicionais.
O Estado italiano dispõe de 150
mil carros oficiais, com os respectivos motoristas, e por aí vai.
Não é um fenômeno novo. Quando era criança, sempre ouvia minha
avó dizer: "Piove, governo ladro".
Até a chuva era culpa do governo
larápio, coisa que ela deve ter ouvido dos pais italianos.
Não obstante, a Itália saiu dos escombros da guerra para ser a quinta potência mundial, com notável
qualidade de vida.
O Brasil, ao contrário, sem guerra
e com casta política similar, fica
eternamente patinando na sua conhecida mediocridade. Será que somos tão espantosamente incompetentes que não conseguimos progredir o suficiente enquanto os políticos dormem para que o progresso não seja todo destruído quando
eles acordam?
Ou as máfias italianas é que são
melhores que as nossas?
crossi@uol.com.br
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