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Pelo interesse público
Na posse, Dilma Rousseff prometeu transparência e rigidez contra desvios, mas não é o que se pratica no tratamento do caso Palocci
Logo depois de eleita, em sua
primeira entrevista, Dilma Rousseff disse que na escolha do seu
ministério iria "exigir competência técnica, desempenho, um histórico de pessoas que não tenham
problemas de nenhuma ordem".
Ao tomar posse, em seu primeiro discurso como presidente, foi
além: "Afirmo com clareza que valorizarei a transparência na administração pública. Não haverá
compromisso com o erro, o desvio
e o malfeito. Serei rígida na defesa
do interesse público em todos os
níveis de meu governo".
A retórica de ambas as frases,
tão recentes, precisa ser confrontada com a suspeita que agora envolve o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. Estão em jogo, neste episódio, justamente os
princípios da transparência e do
interesse público. É em nome deles, e sobretudo do último, que se
impõe a suspensão da confidencialidade dos contratos firmados
entre a empresa de consultoria do
ministro, a Projeto, e seus clientes,
de 2006 até 2010.
Esta Folha revelou, num primeiro momento, que o patrimônio
do ministro no período em que
exercia o mandato de deputado
federal havia sido multiplicado
por 20. Por intermédio da Projeto,
Antonio Palocci comprou um
apartamento por R$ 6,6 milhões,
no ano passado, e um escritório
por R$ 882 mil, em 2009.
Na última sexta-feira, o jornal
noticiou que a empresa de Palocci
faturou R$ 20 milhões em 2010.
Metade deles, nos últimos dois
meses do ano, entre deixar função
de coordenador da campanha de
Dilma e ser nomeado ministro.
Trata-se, evidentemente, de
uma trajetória empresarial atípica, suficiente para suscitar todo tipo de questionamento. O que se
espera do ministro, já há duas semanas, é que venha finalmente a
público para explicar em detalhes
a lisura do empreendimento.
Palocci precisa demonstrar que
não havia conflito de interesses ou
incompatibilidade legal entre a
sua atividade pública e a dos
clientes pagantes. Só assim sua
imagem não será injustamente
comprometida, e ele poderá então
ter tranquilidade para retomar sua
importante função no governo.
O comportamento adotado por
Palocci e pelo Planalto, no entanto, tem sido no mínimo frustrante
e colabora para ampliar as dúvidas disseminadas na sociedade.
A Comissão de Ética Pública da
Presidência decidiu, de forma
bastante ligeira, que simplesmente não era o caso de investigar a
evolução patrimonial do ministro.
E o próprio Palocci, na única ocasião em que se dirigiu ao público,
o fez por meio de uma nota canhestra, que chegou ao conhecimento do Congresso, na qual nada de substantivo se esclarecia.
Não é o caso, repita-se, de condenar antecipadamente Palocci.
Mas o interesse público implicado
nesse imbróglio exige que ele dê
transparência a seus negócios.
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