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O código do PMDB
Na confrontação em que se
transformou o exame do novo Código Florestal pela Câmara dos
Deputados, não foi a oposição que
ganhou, nem só o governo saiu
derrotado. Perdeu o país todo.
O texto básico de Aldo Rebelo
(PC do B-SP), o mais próximo de
um acordo entre Planalto e bancada ruralista a que se conseguiu
chegar, terminou aprovado por
410 votos. Ainda que desequilibrado em favor dos produtores rurais, tinha o mérito de descriminalizar a ocupação antiga, pela agropecuária, de algumas áreas que a
lei veio a considerar de preservação permanente, como encostas e
topos de morro.
Concessões aos ruralistas já
eram inevitáveis, nessa altura, e o
governo federal chegou a negociar. O relatório afinal aprovado
na Câmara, contudo, vai muito
além do atendimento a pleitos justificáveis e compromissos pragmáticos. Como está, põe as florestas sob ameaça considerável.
Imóveis rurais com até quatro
módulos fiscais (20 a 400 hectares, conforme a região) ficariam
dispensados de recompor matas
devastadas. No caso de derrubadas ao longo de rios de até 10 m de
largura, o reflorestamento obrigatório ocorreria só numa faixa de 15
m, e não mais 30 m.
Também seriam extintas as
multas e autuações de quem desmatou ilegalmente, se o produtor
vier a reconhecer seu passivo ambiental e aceitar plano de recuperação definido por governos estaduais (notoriamente mais permissivos que o federal). Essa espécie
de anistia valeria para quem desmatou até julho de 2008, em plena
vigência do código modificado
por medida provisória em 2001.
Cria-se, com isso, um sério precedente. Produtores podem sentir-se incentivados a prosseguir
desmatando, diante da deficiência crônica da fiscalização e da expectativa de um novo perdão.
A assimetria pró-ruralista foi
amplificada por uma emenda do
PMDB, que teve 273 votos. O partido do vice-presidente da República, Michel Temer, apoiou em peso
a emenda, tão unido quanto PSDB
e DEM no voto contra o governo
em que detém seis ministérios.
A inconfiabilidade peemedebista não augura boa perspectiva
para o governo reequilibrar o novo
código no Senado. Restará à presidente Dilma Rousseff vetar itens
como a anistia, cumprindo o que
prometeu na campanha eleitoral.
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