São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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CALAMIDADE AFRICANA

"Trágico" parece um adjetivo fraco demais para qualificar a situação na África meridional. Agências humanitárias calculam em 13 milhões o número de pessoas que podem morrer no continente nos próximos meses devido à fome. Paralelamente, a epidemia de Aids na região vai produzindo mais vítimas e minando as já precárias estruturas dos países afetados.
À ação da natureza, que periodicamente impõe terríveis secas, somam-se desastres políticos providenciados pelos homens. No Zimbábue, por exemplo, a pequena produção agrícola do país foi praticamente paralisada pelo fato de o governo ter confiscado milhares de fazendas que pertenciam a brancos.
Em Angola, as agências humanitárias afirmam que mal conseguem trabalhar por causa das minas terrestres que foram espalhadas por todo o país na interminável guerra civil.
O resultado é uma contabilidade macabra. Em Angola, por exemplo, 51% da população passa fome. Na "campeã" Somália, três de cada quatro habitantes sofre de desnutrição.
Os números da Aids como que acrescentam um toque de crueldade. A expectativa média de vida na África austral já caiu para 47 anos. Seria de 62 sem a doença. Em 16 países, 10% da população está infectada, mas, em nichos específicos, como as mulheres grávidas na região urbana de Botsuana, essa taxa chega a 44%.
Em algumas nações, a doença está matando médicos e professores em ritmo superior àquele em que podem ser formados. A população fica assim privada até do mínimo de informação sobre como evitar a moléstia.
A calamidade africana é tão grave que as poucas esperanças que restam para o continente repousam sobre a prometida ajuda dos países ricos. Infelizmente, tem sido mais fácil prometer auxílio do que de fato encontrar meios para enviá-lo.
Parece particularmente absurdo que ainda se morra de fome num mundo que em tese já produz alimentos para todos.


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