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BLAIR X BBC
Além de mergulhar Tony Blair
na maior crise política de seus
seis anos como premiê, a morte
-aparentemente suicídio- de um
especialista em armas de destruição
em massa que servia ao governo britânico provocou um debate jornalístico que tem no centro a British
Broadcasting Corporation (BBC).
Encontrado morto há uma semana, o microbiólogo David Kelly foi
fonte de reportagem em que a rede
acusou o assessor de imprensa de
Blair de incluir informações duvidosas em dossiê sobre o arsenal de Saddam Hussein, de modo a exagerar a
ameaça representada pelo ditador e
obter respaldo para invadir o Iraque.
Levada ao ar em maio, a reportagem desencadeou uma onda de pressões sobre a emissora, da qual o governo passou a exigir ora desculpas
formais, ora a identificação da fonte
-até então mantida em sigilo. Diante de seguidas recusas, autoridades
deixaram "vazar" o nome de Kelly.
Pouco antes de morrer, ele negou ter
dado as informações ao repórter.
Ao reconhecer, depois da morte,
que sua fonte era mesmo Kelly, a
BBC tornou-se alvo de críticos para
os quais foi ela, não o governo, que
"esquentou" as avaliações do especialista, levando-o ao desespero.
Financiada diretamente pelo contribuinte, a octogenária rede tem um
estatuto que protege sua linha editorial de interferências governamentais. O caso Kelly é a mais recente de uma série de insatisfações de Blair
com a emissora, também às turras
com o governo de Israel, que a acusa
de manter viés pró-palestino.
Seria ingênuo exaltar a independência da BBC sem ponderar que o
"velho trabalhismo" incrustado na
emissora é visível na orientação de
seu noticiário. Porém, num ambiente jornalístico de predominância
conservadora, a "esquerda" representada pela BBC contribui para a diversidade informativa. Sua cobertura
da guerra foi um contraponto ao oficialismo da TV americana. Independentemente do que o inquérito em
curso concluir, permanece o fato de
que as armas alardeadas por Blair e
Bush jamais foram encontradas.
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