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São Paulo, sábado, 26 de julho de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Choro e segurança

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), deixou a PM entrar na Câmara, chorou no dia seguinte, declarou-se "triste" e colocou a culpa na mídia, que teria exagerado ao noticiar o ocorrido.
Lhano no trato, o petista pode transferir a responsabilidade para quem quiser. Só não dá para eximir-se de suas atribuições.
O fato concreto é um só. Houve desídia da administração da Câmara sob o comando de João Paulo Cunha. Até as palmeiras imperiais do jardim do Congresso sabiam da possível aglomeração de servidores dentro da Casa no dia da votação do relatório da reforma da Previdência.
Um administrador prudente e eficiente -não é o caso de muitos petistas aboletados em cargos importantes em Brasília- faria o básico. Determinaria que as entradas da Câmara tivessem uma segurança reforçada desde as primeiras horas do dia. Não para impedir a manifestação democrática dos descontentes, mas para garantir a todos o direito de expressar as suas preferências.
João Paulo não fez nada disso. Balbúrdia instalada, ficou com o pior dos mundos. Chamou a PM.
O episódio também remete a outro problema antigo da capital federal. Basta colocar terno e gravata e olhar para frente com ar de doutor que as portas se abrem para qualquer um em Brasília. Chega-se assim à ante-sala de vários ministros.
Vá lá que as autoridades queiram fazer jus à máxima de Sérgio Buarque de Holanda, segundo a qual o brasileiro é um "homem cordial". Mas a lassidão das entradas do Congresso beira a irresponsabilidade.
Na porta principal, há duas passagens à escolha do visitante: uma com detetor de metais e outra sem. Sem querer sugerir nada, é fácil entrar na Câmara ou no Senado com uma AK-47 escondida na roupa.
João Paulo Cunha e José Sarney deveriam pensar nisso para que ninguém mais precisasse chorar no dia seguinte lamentando a presença da PM e a repercussão na mídia.


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