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FERNANDO RODRIGUES
Choro e segurança
BRASÍLIA - O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), deixou a
PM entrar na Câmara, chorou no dia
seguinte, declarou-se "triste" e colocou a culpa na mídia, que teria exagerado ao noticiar o ocorrido.
Lhano no trato, o petista pode
transferir a responsabilidade para
quem quiser. Só não dá para eximir-se de suas atribuições.
O fato concreto é um só. Houve desídia da administração da Câmara
sob o comando de João Paulo Cunha.
Até as palmeiras imperiais do jardim
do Congresso sabiam da possível
aglomeração de servidores dentro da
Casa no dia da votação do relatório
da reforma da Previdência.
Um administrador prudente e eficiente -não é o caso de muitos petistas aboletados em cargos importantes em Brasília- faria o básico. Determinaria que as entradas da Câmara tivessem uma segurança reforçada desde as primeiras horas do dia.
Não para impedir a manifestação democrática dos descontentes, mas para garantir a todos o direito de expressar as suas preferências.
João Paulo não fez nada disso. Balbúrdia instalada, ficou com o pior
dos mundos. Chamou a PM.
O episódio também remete a outro
problema antigo da capital federal.
Basta colocar terno e gravata e olhar
para frente com ar de doutor que as
portas se abrem para qualquer um
em Brasília. Chega-se assim à ante-sala de vários ministros.
Vá lá que as autoridades queiram
fazer jus à máxima de Sérgio Buarque de Holanda, segundo a qual o
brasileiro é um "homem cordial".
Mas a lassidão das entradas do Congresso beira a irresponsabilidade.
Na porta principal, há duas passagens à escolha do visitante: uma com
detetor de metais e outra sem. Sem
querer sugerir nada, é fácil entrar na
Câmara ou no Senado com uma AK-47 escondida na roupa.
João Paulo Cunha e José Sarney deveriam pensar nisso para que ninguém mais precisasse chorar no dia
seguinte lamentando a presença da
PM e a repercussão na mídia.
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