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CARLOS HEITOR CONY
Quando as fontes conspiram
RIO DE JANEIRO - Desde que o jornalismo encheu a boca com a palavra
"ética", o direito de preservar a fonte
é tido como sagrado, a tábua da lei, a
pedra angular da informação. Na
maioria dos casos, a ética não passa
de uma simplificação oportunista da
moral comum.
Temos agora o exemplo de uma
fonte que foi preservada pela BBC e
pelo governo inglês, interessado em se
aliar aos Estados Unidos na agressão
ao Iraque. O caso acabou num suicídio, talvez num assassinato.
No episódio, que envolve o primeiro-ministro Tony Blair, o que menos
importa é a veracidade e a importância da informação. O que conta foi o
uso político e militar que dela se fez.
Bem-intencionada ou não, nenhuma
fonte deve ser mantida em segredo.
Uma informação, seja ela qual for,
antes de ser assumida pelo jornalista,
que dela se aproveita prometendo
resguardar a sua origem, deve ser assumida prioritariamente pela própria fonte.
De duas uma: ou a fonte diz a verdade ou mente. Ou tem autoridade
para dar a informação, mas não pode se expor, ou funciona como agente
duplo da informação, dela se beneficiando de algum modo. Se a notícia
der o resultado pretendido pela fonte,
ela ganha alguma coisa, pois foi essa
a sua intenção: a de criar um bode
para alguém ou para alguma causa.
Se não der bode, tudo bem, a fonte
continua preservada, lucrando com a
situação ou com a pessoa que tentou
denunciar ou condenar ao pelourinho.
Colocar a informação, que pode ser
verdadeira ou falsa, acima de qualquer outro valor moral, é ético? Se a
fonte tem a consciência de que a informação é verdadeira, que não se esconda no sigilo tático, lucrando seja
qual for o resultado da notícia que
dá. Caso contrário, tanto a fonte como o jornalista tornam-se cúmplices
de uma conspiração que, para dizer o
menos, é duvidosa.
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