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São Paulo, terça-feira, 26 de agosto de 2003

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PROGRAMA ESPACIAL

A tragédia em Alcântara não deveria por si só acarretar a suspensão do programa espacial brasileiro. Contudo, depois da terceira experiência fracassada com o VLS (Veículo Lançador de Satélites), que resultou em 21 mortes, parece prudente que o projeto passe por uma profunda reavaliação.
O Brasil, em princípio, reúne dimensões, recursos e massa crítica que justificariam o desenvolvimento de um programa espacial. Resta saber, no entanto, se o país está disposto a fazê-lo em condições que garantam não apenas maior segurança, mas propiciem conquistas tecnológicas efetivas dentro de um período de tempo aceitável.
Dominar a tecnologia de foguetes pode trazer vantagens tanto do ponto de vista estratégico como econômico. Seria desejável que o país pudesse não depender do cronograma ou do interesse de potências estrangeiras para lançar satélites. No plano comercial, a atividade seria promissora, especialmente pelas condições geográficas da base de Alcântara, cuja proximidade com a linha do Equador permite menores custos e maior eficiência nos lançamentos.
Não é possível, no entanto, reivindicar um lugar nesse mercado sem investir seriamente em pesquisa e tecnologia. É verdade que todos os programas espaciais do mundo colheram seus reveses. Os próprios EUA perderam recentemente sete astronautas na explosão do ônibus espacial Columbia. Porém, é forçoso reconhecer que três fracassos em três tentativas do programa VLS são uma marca pouco encorajadora. Especialistas convergem para a avaliação de que o Brasil possui quadros técnicos e científicos capacitados. A dedicação e o idealismo daqueles que perderam a vida em Alcântara têm sido mencionados por quem acompanha o projeto. O que parece não haver é planejamento governamental e recursos suficientes.
Para reforçar a própria credibilidade do programa é indispensável promover investigações completas e transparentes sobre as causas do acidente. O ideal seria que as diligências ficassem sob responsabilidade de uma comissão independente tanto da Agência Espacial Brasileira como da Aeronáutica. Seria importante também que essa comissão, da qual deveriam participar cientistas de alto gabarito desvinculados do programa espacial e do governo, não se limitasse a apontar os motivos do desastre, mas trouxesse sugestões para aperfeiçoar o programa e torná-lo compatível com a realidade do país.


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