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PROGRAMA ESPACIAL
A tragédia em Alcântara não
deveria por si só acarretar a suspensão do programa espacial brasileiro. Contudo, depois da terceira experiência fracassada com o VLS (Veículo Lançador de Satélites), que resultou em 21 mortes, parece prudente que o projeto passe por uma profunda reavaliação.
O Brasil, em princípio, reúne dimensões, recursos e massa crítica
que justificariam o desenvolvimento
de um programa espacial. Resta saber, no entanto, se o país está disposto a fazê-lo em condições que garantam não apenas maior segurança,
mas propiciem conquistas tecnológicas efetivas dentro de um período
de tempo aceitável.
Dominar a tecnologia de foguetes
pode trazer vantagens tanto do ponto de vista estratégico como econômico. Seria desejável que o país pudesse não depender do cronograma
ou do interesse de potências estrangeiras para lançar satélites. No plano
comercial, a atividade seria promissora, especialmente pelas condições
geográficas da base de Alcântara, cuja proximidade com a linha do Equador permite menores custos e maior
eficiência nos lançamentos.
Não é possível, no entanto, reivindicar um lugar nesse mercado sem
investir seriamente em pesquisa e
tecnologia. É verdade que todos os
programas espaciais do mundo colheram seus reveses. Os próprios
EUA perderam recentemente sete astronautas na explosão do ônibus espacial Columbia. Porém, é forçoso
reconhecer que três fracassos em
três tentativas do programa VLS são
uma marca pouco encorajadora. Especialistas convergem para a avaliação de que o Brasil possui quadros
técnicos e científicos capacitados. A
dedicação e o idealismo daqueles
que perderam a vida em Alcântara
têm sido mencionados por quem
acompanha o projeto. O que parece
não haver é planejamento governamental e recursos suficientes.
Para reforçar a própria credibilidade do programa é indispensável promover investigações completas e
transparentes sobre as causas do acidente. O ideal seria que as diligências
ficassem sob responsabilidade de
uma comissão independente tanto
da Agência Espacial Brasileira como
da Aeronáutica. Seria importante
também que essa comissão, da qual
deveriam participar cientistas de alto
gabarito desvinculados do programa
espacial e do governo, não se limitasse a apontar os motivos do desastre,
mas trouxesse sugestões para aperfeiçoar o programa e torná-lo compatível com a realidade do país.
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