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CARÊNCIA BÁSICA
Os números a respeito do saneamento divulgados ontem
pela Folha espantam: 3,4 milhões de
domicílios não têm abastecimento
de água potável, e 9,6 milhões não
dispõem de rede de esgoto nem de
fossas sépticas. Desnecessário dizer
que as vítimas de tamanha precariedade são os mais pobres.
O problema é gravíssimo e vem se
alongando há anos, numa situação
comparável à do setor de energia elétrica, cujo abandono acabou por se
materializar no lamentável e custoso
"apagão" de 2001. Para ter uma idéia
da dimensão do desafio, estudo encomendado pelo Ministério das Cidades estima em R$ 178 bilhões os
investimentos necessários para resolver as carências da área nos próximos dois decênios.
As perspectivas revelam-se mais
sombrias quando se sabe que dificilmente haverá maior interesse da iniciativa privada. Ainda que ela venha a
participar dos investimentos, será
inevitável que o poder público assuma sua responsabilidade de destinar
recursos para o saneamento.
Há, entretanto, limites importantes
a serem superados. É certo que a disponibilidade de verbas é restrita, mas
mesmo as que existem não são totalmente utilizadas em razão da necessidade de gerar volumosos superávits fiscais com vistas ao pagamento
dos juros da dívida pública. Resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) impede, por exemplo,
que municípios tomem crédito acima de R$ 200 milhões por ano.
Esse é um dos constrangimentos
que precisam ser reformulados caso
o Brasil venha a fechar novo acordo
com o FMI. Compreende-se o imperativo da responsabilidade fiscal,
mas não é possível continuar punindo os mais pobres e sacrificando a
saúde pública a título de demonstrar
solvência para os mercados.
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