São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Os distraídos

SÃO PAULO - Primeiro foi José Dirceu, o chefe da Casa Civil. Conviveu durante 13 anos com Waldomiro Diniz, chegou a morar com ele, mas não percebeu absolutamente nada de, digamos, irregular no amigo. Tanto estava distraído que, na primeira oportunidade, levou-o para coabitar no Palácio do Planalto, incumbido, ainda por cima, das negociações com parlamentares, território pantanoso como poucos.
Depois foi o ministro da Saúde, Humberto Costa, que trabalhou durante anos com Luiz Cláudio Gomes da Silva, confiou-lhe o cuidado das finanças em Pernambuco, chamou-o para o ministério em Brasília -e não notou nada, apesar de ele próprio ter feito a denúncia que acabaria por levar seu auxiliar de confiança à prisão no bojo da chamada Operação Vampiro.
Em seguida foi o próprio presidente da República, que conviveu durante quatro campanhas presidenciais com Francisco Baltazar da Silva, chefe de sua segurança. Gostou tanto que forçou sua nomeação para a chefia da Polícia Federal em São Paulo. Vê-se agora constrangido a aceitar o pedido de demissão "por motivos pessoais", depois de uma seqüência de suspeitas sobre o policial.
Êta gente distraída, não?
Acabam dando motivos para que o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) fique com a pulga atrás da orelha com Delúbio Soares, arrecadador-chefe do PT, e se precipite em suposições sobre o comportamento que Soares adotará caso seja aprovado o projeto que cria as PPPs (Parcerias Público-Privadas).
Ainda mais que o arrecadador-chefe já ajudou o partido a levantar uma bela grana do Banco do Brasil no episódio da compra de ingressos para um show em favor do PT.
Se caciques tão importantes do partido como Dirceu, Humberto Costa e o próprio Lula não perceberam nada sobre personagens que com eles conviveram tanto tempo, quantos outros não podem andar por aí nas mesmas condições?


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