São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2005

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MEDO DE CRESCER

Já havia provocado decepção a decisão do Banco Central, anunciada na semana passada, de manter a taxa de juros básica em 19,75% ao ano. Essa decepção foi reforçada, ontem, pela divulgação da ata da reunião em que essa decisão foi tomada.
Ainda que sinalizem um corte em setembro, os membros do Comitê de Política Monetária do BC invocam, como um dos fatores que inibiram o ansiado início da redução dos juros, a elevação do nível de utilização da capacidade instalada na indústria. Essa elevação reflete o fato de que o crescimento da produção se deu, no passado recente, a um ritmo inferior ao da ampliação da capacidade produtiva.
O que vem impedindo um aumento mais rápido da capacidade de produção da indústria é, evidentemente, o baixo dinamismo dos investimentos. Depois de recuar no quarto trimestre do ano passado e no primeiro trimestre deste ano, os investimentos deram sinais de reação a partir de abril -movimento, porém, insuficiente para impedir um estreitamento da capacidade ociosa.
A preocupação do Banco Central com esse estreitamento é fruto da avaliação de que ele pode provocar insuficiência de oferta de produtos industriais em comparação com a demanda pelos mesmos, o que pressionaria os preços. Mas salta aos olhos que a manutenção de juros muitos altos, visando inibir a demanda, acaba por desestimular também os investimentos -o que há tempos contribui para manter a economia presa numa armadilha que limita seu dinamismo.
O comportamento recente, muito favorável, dos índices de preços e das expectativas de inflação indica que as temidas pressões de demanda não estão se traduzindo em aumentos incômodos de preços. Há probabilidade, assim, de que em setembro, enfim, tenha início um processo de redução da taxa básica de juros. Resta esperar que o arraigado medo das autoridades monetárias em relação ao suposto impacto inflacionário de um crescimento menos pífio da economia não se traduza em reduções muito moderadas dos juros, incapazes de proporcionar o necessário alento aos setores endividados e à atividade econômica.


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