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MEDO DE CRESCER
Já havia provocado decepção a
decisão do Banco Central, anunciada na semana passada, de manter
a taxa de juros básica em 19,75% ao
ano. Essa decepção foi reforçada, ontem, pela divulgação da ata da reunião em que essa decisão foi tomada.
Ainda que sinalizem um corte em
setembro, os membros do Comitê
de Política Monetária do BC invocam, como um dos fatores que inibiram o ansiado início da redução dos
juros, a elevação do nível de utilização da capacidade instalada na indústria. Essa elevação reflete o fato
de que o crescimento da produção se
deu, no passado recente, a um ritmo
inferior ao da ampliação da capacidade produtiva.
O que vem impedindo um aumento mais rápido da capacidade de produção da indústria é, evidentemente,
o baixo dinamismo dos investimentos. Depois de recuar no quarto trimestre do ano passado e no primeiro
trimestre deste ano, os investimentos deram sinais de reação a partir de
abril -movimento, porém, insuficiente para impedir um estreitamento da capacidade ociosa.
A preocupação do Banco Central
com esse estreitamento é fruto da
avaliação de que ele pode provocar
insuficiência de oferta de produtos
industriais em comparação com a
demanda pelos mesmos, o que pressionaria os preços. Mas salta aos
olhos que a manutenção de juros
muitos altos, visando inibir a demanda, acaba por desestimular também os investimentos -o que há
tempos contribui para manter a economia presa numa armadilha que limita seu dinamismo.
O comportamento recente, muito
favorável, dos índices de preços e das
expectativas de inflação indica que as
temidas pressões de demanda não
estão se traduzindo em aumentos incômodos de preços. Há probabilidade, assim, de que em setembro, enfim, tenha início um processo de redução da taxa básica de juros. Resta
esperar que o arraigado medo das
autoridades monetárias em relação
ao suposto impacto inflacionário de
um crescimento menos pífio da economia não se traduza em reduções
muito moderadas dos juros, incapazes de proporcionar o necessário
alento aos setores endividados e à atividade econômica.
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