São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2005

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O BRASIL NO HAITI

O Haiti já está se tornando um atoleiro para o Brasil. Os objetivos da missão original -apoiada por esta Folha-, que era a de ajudar o país caribenho a evitar a eclosão de uma guerra civil após a deposição do presidente Jean-Bertand Aristide, em fevereiro de 2004, e a fortalecer suas instituições de modo a superar democraticamente a crise política, parecem cada vez mais distantes.
É impossível dizer se a presença de tropas estrangeiras impediu ou não a irrupção de um conflito fratricida, mas não há nenhuma dúvida de que a missão da ONU não está sendo capaz de prevenir a violência no país.
De fato, é cada vez mais difícil distinguir as delinqüências politicamente motivadas do banditismo comum. Porto Príncipe, a capital, atravessa já há alguns meses uma epidemia de seqüestros que dificilmente será contida, segundo avaliação do general brasileiro Urano Teixeira da Matta, que na próxima semana assume o comando da missão no lugar do general Augusto Heleno Ribeiro Pereira. As eleições, previstas para ter início em outubro, foram adiadas para dezembro. É difícil dizer se ocorrerão num futuro próximo.
São, evidentemente, muitas as razões que concorreram para os insucessos. Uma das mais importantes parece ser a falta de compromisso da comunidade internacional em de fato promover a reconstrução do país. Grande parte da ajuda prometida em 2004 jamais chegou à ilha.
E dificilmente chegará. O drama haitiano concorre com várias outras catástrofes humanitárias como a fome no Níger -para citar a mais recente- e o auxílio às vítimas do tsunami na Ásia -a que mais mobilizou a opinião pública. Pior, os EUA, a quem diretamente interessa encontrar uma solução para o problema haitiano, estão envolvidos até o pescoço no Iraque e no Afeganistão.
Diante desse quadro, o Brasil fica na incômoda posição de comandar uma missão que vai se tornando cada vez mais impossível. Fica com os ônus políticos pelo fracasso. Igualmente ruim, é muito difícil também abandonar o Haiti, pois a saída do Brasil poderia tornar as coisas ainda piores para os haitianos. O que resta é permanecer apenas fingindo que tudo vai muito bem.


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