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O BRASIL NO HAITI
O Haiti já está se tornando um
atoleiro para o Brasil. Os objetivos da missão original -apoiada
por esta Folha-, que era a de ajudar
o país caribenho a evitar a eclosão de
uma guerra civil após a deposição do
presidente Jean-Bertand Aristide, em
fevereiro de 2004, e a fortalecer suas
instituições de modo a superar democraticamente a crise política, parecem cada vez mais distantes.
É impossível dizer se a presença de
tropas estrangeiras impediu ou não a
irrupção de um conflito fratricida,
mas não há nenhuma dúvida de que
a missão da ONU não está sendo capaz de prevenir a violência no país.
De fato, é cada vez mais difícil distinguir as delinqüências politicamente motivadas do banditismo comum. Porto Príncipe, a capital, atravessa já há alguns meses uma epidemia de seqüestros que dificilmente
será contida, segundo avaliação do
general brasileiro Urano Teixeira da
Matta, que na próxima semana assume o comando da missão no lugar
do general Augusto Heleno Ribeiro
Pereira. As eleições, previstas para ter
início em outubro, foram adiadas
para dezembro. É difícil dizer se
ocorrerão num futuro próximo.
São, evidentemente, muitas as razões que concorreram para os insucessos. Uma das mais importantes
parece ser a falta de compromisso da
comunidade internacional em de fato promover a reconstrução do país.
Grande parte da ajuda prometida em
2004 jamais chegou à ilha.
E dificilmente chegará. O drama
haitiano concorre com várias outras
catástrofes humanitárias como a fome no Níger -para citar a mais recente- e o auxílio às vítimas do tsunami na Ásia -a que mais mobilizou a opinião pública. Pior, os EUA,
a quem diretamente interessa encontrar uma solução para o problema
haitiano, estão envolvidos até o pescoço no Iraque e no Afeganistão.
Diante desse quadro, o Brasil fica
na incômoda posição de comandar
uma missão que vai se tornando cada vez mais impossível. Fica com os
ônus políticos pelo fracasso. Igualmente ruim, é muito difícil também
abandonar o Haiti, pois a saída do
Brasil poderia tornar as coisas ainda
piores para os haitianos. O que resta
é permanecer apenas fingindo que
tudo vai muito bem.
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