São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2010

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KENNETH MAXWELL

Opostos

Os investidores em fundos mútuos dos EUA estão fugindo dos mercados de ações em número recorde. Caso o ritmo de fuga persista pelo restante do ano, o número de investidores perdidos pelos fundos mútuos será superior ao de qualquer ano desde a década de 80, excetuado 2008, pico da crise financeira mundial.
Os investidores, ao que parece, simplesmente perderam a fé nas ações, mais ou menos como perderam a fé nos valores de suas casas e em suas expectativas de estabilidade no emprego.
Diante de mercados voláteis, aqueles que podem agora estão optando por investir em fundos mútuos de títulos, mais seguros, que registraram investimentos da ordem de US$ 185 bilhões nos sete primeiros meses do ano. O contraste com o Brasil não poderia ser maior. Os pequenos investidores agora são maioria na Bolsa de Valores de São Paulo, e a BM&F-Bovespa quer elevar o número de pequenos investidores dos atuais 598 mil para 5 milhões até 2014. Os brasileiros continuam convencidos de que se beneficiarão disso em meio ao crescimento da economia.
As eleições do final do ano são outra frente na qual as percepções são muito diferentes no Brasil e nos EUA.
O eleitorado norte-americano está frustrado e furioso. O desemprego continua estacionado acima dos 10%. A política econômica, a despeito de imensos gastos de estímulo, obteve sucesso muito limitado, especialmente no que tange a melhorar a vida cotidiana dos cidadãos.
Os republicanos estão tentando tirar vantagem dessa decepção generalizada, assim como os ruidosos populistas do movimento "Tea Party".
Mas a realidade é que o quadro é muito mais turvo.
Muitos dos congressistas republicanos são ainda mais impopulares que seus colegas democratas. Ninguém está confiante de que qualquer coisa venha a melhorar, pelo menos não logo.
A situação do Brasil é notavelmente diferente. Não só a economia brasileira está crescendo como o mesmo pode ser dito sobre a sua classe média, e as vidas de muitos brasileiros, especialmente no Nordeste, melhoraram bastante. Os brasileiros, em contraste com o clima péssimo que predomina entre muitos norte-americanos, estão confiantes e otimistas quanto ao futuro.
Em lugar de perder popularidade, como aconteceu com Barack Obama, o presidente Lula obteve grande sucesso ao transferir sua popularidade pessoal à candidata que escolheu para sucedê-lo. Como consequência, Dilma está perto de conquistar a maioria necessária para se eleger presidente já no primeiro turno.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI.


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