|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Deus é dez
LUIZ CAVERSAN
Rio de Janeiro - Tinha decidido passar ao largo dos assuntos religiosos,
mas não foi possível.
A cidade viveu ontem clima de papa
total.
O ensaio para as idas e vindas do
líder da Igreja Católica, que por aqui
chega na quinta que vem, mudaram
totalmente a rotina do centro, que à
tarde ficou vazio, calmo, com jeito de
domingo.
O barulho dos vários helicópteros,
que participaram do ensaio de transporte do papa ou treinaram para a cobertura televisiva, também ajudaram
na mudança da rotina. Vôos, sobrevôos, rasantes.
Além do som, os soldados do Exército emprestaram suas cores camufladas
(por que uniforme com camuflagem
de selva na cidade?) para alterar um
pouco mais a vida da cidade, que a
bem da verdade não estava com a cara clássica do Rio, por causa do tempo
nublado, cinza, uma névoa pairando
no ar.
De certa forma, a igreja se prepara
também em outras frentes para a chegada do papa.
Aproveita a movimentação da visita
para buscar a ampliação de seu rebanho, principalmente junto aos jovens.
Nesse contexto, a figura de destaque
tem sido a do padre Zeca, garotão típico da zona sul, geração saúde,
praieiro e surfista, que está na mídia
esses dias como a face jovem da velha
igreja.
Padre Zeca (José Luiz, 27) é padre
mesmo, foi ordenado com 24 anos, reza missa em uma igreja de Ipanema e
dá assistência espiritual à população
da favela Pavão-Pavãozinho.
É um entusiasta da visita do papa,
segundo ele "uma grande figura".
Acha que a Igreja Católica precisa
falar uma linguagem mais compreensível, para fazer frente ao avanço de
seitas e outras religiões.
Por isso ele está lançando a campanha "Deus é dez", que pretende atrair
milhares de fiéis a um evento religioso-musical, domingo, em Ipanema.
Como é bonito, jovem, fala com gírias e esbanja simpatia, padre Zeca está emprestando colorido novo à tradicionalmente vetusta ritualística católica.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|