São Paulo, Domingo, 26 de Setembro de 1999
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Banalização da corrupção

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Se o leitor tivesse tempo e disposição para fazer uma varredura nos jornais dos diferentes Estados, chegaria facilmente à conclusão de que a esmagadora maioria, talvez a totalidade, de deputados (federais ou estaduais), senadores, vereadores e governadores envolvidos em escândalos pertence aos partidos governistas.
Como a base governista é francamente majoritária no Congresso Nacional, entende-se facilmente por que não avançam as propostas de reforma política. Mexer no viciado sistema atual iria contra os interesses da maioria, obviamente a que aprova ou rejeita projetos no Parlamento.
Não obstante, a reforma dos costumes políticos deveria ser prioritária na agenda da República, pela evidência escandalosa de que, primeiro, o sistema não funciona e, segundo, está profundamente minado pela corrupção.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) tem, aliás, um projeto já aprovado parcialmente em que pede inspeções anuais da Receita Federal nas rendas de ocupantes de cargos públicos. Pode não ser a chave da questão, pois, se o projeto se transformar em lei, rendas de origem duvidosa passarão a ser camufladas em nome de testas-de-ferro.
De todo modo, seria um primeiro e importante passo. Hoje, é visível a olho nu que uma parte dos ocupantes de cargos públicos exibe sinais ostensivos de riqueza muito superior à que poderiam obter apenas com salários.
A diária exposição na mídia de irregularidades atribuídas a homens públicos equivale a semear maus exemplos. Se o andar de cima, para usar feliz expressão do notável Elio Gaspari, se comporta dessa forma, por que o andar de baixo deveria se comportar de forma diferente?
O que se está vendo é a banalização da corrupção, como se os políticos estivessem empenhados em provar que são todos farinha do mesmo saco, a melhor maneira de cevar o desencanto igualmente visível a olho nu.



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