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Banalização da corrupção
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Se o leitor tivesse tempo e
disposição para fazer uma varredura
nos jornais dos diferentes Estados,
chegaria facilmente à conclusão de
que a esmagadora maioria, talvez a
totalidade, de deputados (federais ou
estaduais), senadores, vereadores e governadores envolvidos em escândalos
pertence aos partidos governistas.
Como a base governista é francamente majoritária no Congresso Nacional, entende-se facilmente por que
não avançam as propostas de reforma
política. Mexer no viciado sistema
atual iria contra os interesses da
maioria, obviamente a que aprova ou
rejeita projetos no Parlamento.
Não obstante, a reforma dos costumes políticos deveria ser prioritária na
agenda da República, pela evidência
escandalosa de que, primeiro, o sistema não funciona e, segundo, está profundamente minado pela corrupção.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS)
tem, aliás, um projeto já aprovado
parcialmente em que pede inspeções
anuais da Receita Federal nas rendas
de ocupantes de cargos públicos. Pode
não ser a chave da questão, pois, se o
projeto se transformar em lei, rendas
de origem duvidosa passarão a ser camufladas em nome de testas-de-ferro.
De todo modo, seria um primeiro e
importante passo. Hoje, é visível a
olho nu que uma parte dos ocupantes
de cargos públicos exibe sinais ostensivos de riqueza muito superior à que
poderiam obter apenas com salários.
A diária exposição na mídia de irregularidades atribuídas a homens públicos equivale a semear maus exemplos. Se o andar de cima, para usar feliz expressão do notável Elio Gaspari,
se comporta dessa forma, por que o
andar de baixo deveria se comportar
de forma diferente?
O que se está vendo é a banalização
da corrupção, como se os políticos estivessem empenhados em provar que
são todos farinha do mesmo saco, a
melhor maneira de cevar o desencanto igualmente visível a olho nu.
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