|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Haja paciência!
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Como falar em ética na política num país que tem 7,5 milhões de
analfabetos acima de 15 anos?
Com base em que informações, necessidades, impulsos e vontades votam
esses e outros milhões de pessoas que
não lêem jornais, pouco ou nunca
vêem televisão, comem e moram mal?
E como é que nós, que lemos jornais,
vemos televisão, viajamos e comemos
(em geral mais do que devemos) podemos condenar aqueles do outro grupo
que trocam voto por dinheiro, dentadura, sapato ou lote?
Complicado, não é? Para o ex-reitor
da UnB e ex-governador Cristóvam
Buarque, estudioso da ética na política, a única saída é "botar todo mundo
na escola e ter paciência". Tem lá seu
fundo de verdade, mas equivale a
"deixar o bolo crescer para depois dividir". A distribuição nunca acontece.
O melhor é justamente não ter um
pingo de paciência e tentar, primeiro,
botar mesmo todo mundo na escola e,
simultaneamente, proteger o voto. Como? Pregação, constrangimento e intimidação pura e simples.
A pregação cabe também a igrejas,
entidades, universidades, escolas e imprensa. O constrangimento começa
pelos partidos, que não podem sair filiando qualquer um. Continua pelo
empresário, que alimenta candidatos
que só vão engordar as ocorrências policiais e os processos de cassação. E é
arrematado pelo juiz, que pode "cortar o mal pela raiz", cassando registros.
A intimidação tem que ser direta:
leis duras, impugnações, multas daqui, cadeias dali. E, finalmente, mudança no artigo 53 da Constituição
-o da "imunidade paralamentar",
segundo um leitor bem-humorado.
Alguns discordam da idéia de cassar
a vaga do partido junto com o deputado. Alegam que o Estado também seria punido. Rondônia, por exemplo,
teria perdido três de suas oito vagas na
Câmara numa só legislatura: Jabes
Rabelo foi cassado em 91, Nobel Moura, em 93, e Raquel Cândido, em 94.
E daí? Ótimo. Nada poderia ser mais
pedagógico, constrangedor e intimidatório. Rondônia passaria a votar
melhor. E certamente seria melhor.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Banalização da corrupção Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Fogo na Notre Dame Índice
|