São Paulo, Domingo, 26 de Setembro de 1999
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A educação e os energéticos

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

A semana marcou um tempo de festa para os dirigentes da Petrobras e o presidente Fernando Henrique Cardoso, que comemoraram, com entusiasmo, a descoberta de um poço de petróleo gigante, na bacia de Santos, de quase 700 milhões de barris.
Além da justificada alegria, o que isso significa para a economia do Brasil? Como se compara esse feito com descobertas em outras partes do mundo?
As reservas mundiais de petróleo ultrapassam a casa de 1 trilhão de barris. Isso pode levar muitos precipitados a concluir que o novo poço, com 700 milhões de barris, é uma minguada gota d'água num grande oceano.
Outros poderão ir ainda mais longe, lembrando que uma descoberta recente no mar Cáspio localizou um poço de 150 bilhões de barris, que dão para sustentar o consumo do mundo durante seis anos. O "superpoço" da bacia de Santos daria para meros dez dias -uma descoberta de pouca importância.
Tudo isso é certo. Afinal, a maior parte das reservas de petróleo (conhecidas) está fora do Brasil.
Mas, quando se analisa a nova descoberta à luz da realidade brasileira, o quadro é outro. O Brasil tem uma reserva de petróleo de aproximadamente 17 bilhões de barris. Só o poço descoberto ampliou nossa reserva em quase 5%, podendo adicionar 100 mil barris de petróleo à nossa produção diária. Isso é muito expressivo.
Trata-se de um incremento valioso numa hora em que o consumo não pára de crescer e o preço do petróleo importado não pára de subir.
A descoberta é de grande importância futura. O Brasil precisa de muita energia para voltar a se desenvolver. Se as empresas petrolíferas nos brindarem com mais dois ou três poços desse tipo ao longo dos próximos dez anos, estaremos feitos! Isso não é absurdo, pois todas elas mostram o desejo de investir pesadamente na exploração nacional.
Nessa hora de festas, há três lições a considerar. A primeira é que a comemoração da descoberta precisa ser acompanhada de uma atenção redobrada ao setor energético. A pesquisa, exploração e produção merecem a mais alta prioridade, assim como novos capitais devem ser estimulados a participar dos empreendimentos.
A segunda lição é que a exploração do petróleo no mar, além de difícil, é cara, o que sugere ao Brasil considerar seriamente a busca de outras fontes de energia como a termoelétrica, o álcool, a energia eólica e outras.
A terceira lição e, talvez, a mais importante de todas é que as dificuldades de obtenção de energéticos na quantidade e no preço que o Brasil precisa tornam imperioso implementar uma séria campanha de educação no uso da energia (de todos os tipos), pois a atual capacidade energética está muito aquém das necessidades de crescimento do país.
A semana foi de festa -e com razão. Mas as próximas décadas terão de ser de trabalho -e muito trabalho, como o brilhantemente realizado pelo corpo técnico da Petrobras.


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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