São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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INCERTEZA CAMBIAL

Alguns investidores e analistas de bancos estrangeiros avaliam que uma eventual vitória do candidato do PT à Presidência ainda não estaria embutida na cotação da moeda brasileira. Outros defendem que o dólar subiu além de qualquer patamar razoável e que uma vitória de Lula já estaria precificada. Nessa perspectiva, as cotações tenderiam a ceder após as eleições.
Para os primeiros, a desvalorização recente do real decorreu mais de fatores conjunturais do que políticos. Houve pressões dos investidores para elevar a cotação do dólar no final do mês a fim de garantir bons resultados patrimoniais com o vencimento de títulos públicos com correção cambial, bem como de contratos negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Assim, desvalorizações adicionais deveriam ocorrer nas próximas semanas.
Com o objetivo de obter ganhos de curto prazo, os investidores podem, sim, armar um ataque especulativo de grande proporções contra a moeda brasileira dadas as interligações do sistema financeiro local com o internacional. Especula-se inclusive que o dólar poderia atingir a cotação de até R$ 5, ensejando aquilo que os economistas chamam de "profecia auto-realizável".
A flutuação do dólar em torno de R$ 3 pode permitir a manutenção dos superávits na balança comercial, a redução da taxa de juros e a retomada do crescimento, possibilitando a queda da relação dívida/PIB. Porém o aprofundamento das turbulências financeiras, com uma valorização do dólar para R$ 4 ou R$ 5, pode levar à insolvência dos pagamentos externos por absoluta impossibilidade de acesso ao mercado internacional de crédito, à explosão da dívida pública doméstica indexada ao câmbio e à falência de empresas endividadas em dólar. Isso não interessa a ninguém.
A transição política faz parte das regras de um regime democrático. Cabe à sociedade exigir políticas que garantam a estabilidade econômica. Nesse sentido, reduzir a elevada dependência do fluxo de capital externo deveria ser uma tarefa imprescindível de qualquer candidato que vença as próximas eleições.


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