São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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O DOSSIÊ DE BLAIR

O dossiê contra o Iraque divulgado pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, reafirma o que se sabia, que o ditador Saddam Hussein possui armas químicas e biológicas em seus arsenais e que se esforça para fabricar um artefato nuclear.
O documento também lembra que Saddam Hussein não hesita em utilizar armas de destruição em massa. Em março de 1988, ele lançou ataques químicos contra seus próprios conterrâneos curdo iraquianos, num episódio que ficou conhecido como o massacre de Halabja, que deixou cerca de 5.000 civis mortos.
O dossiê britânico não deixa de mencionar que Saddam também é um assassino frio e metódico, que subiu na hierarquia do partido Baath matando correligionários e que mantém, desde que ascendeu ao poder, um dos regimes repressivos mais sanguinários de todo o Oriente Médio. Só sua campanha contra os curdos resultou na morte ou no desaparecimento de 100 mil opositores, segundo a Anistia Internacional.
O relatório, mesmo sem trazer grandes novidades, impressiona. A questão é que nenhum dos países europeus -e mesmo árabes- que se opõem à guerra contra o Iraque defende Saddam Hussein. Boa parte deles gostaria de ver o ditador deposto. A crítica à posição dos EUA e do Reino Unido diz respeito principalmente ao caráter de urgência que esses dois países procuram dar ao desarmamento de Saddam.
E, de fato, parece pouco provável que a atual posição do Iraque justifique uma guerra. Saddam por certo é uma ameaça à segurança mundial, mas não é uma ameaça maior do que era há 11 anos, quando Bush pai fez a Guerra do Golfo e desistiu de derrubá-lo, ou do que era há 14 anos, quando a administração Reagan o apoiava material e logisticamente.
O que o dossiê de Blair prova é a necessidade de a ONU enviar ao Iraque inspetores que, encontrando armas de destruição em massa, as inutilizem -exigência com a qual Saddam Hussein já concordou.


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