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CLÓVIS ROSSI
Fazer o que Fidel sempre fez
SÃO PAULO- Na sua visita anterior a Cuba (em 2001, quando a vitória eleitoral do ano seguinte estava muito
longe do horizonte), Luiz Inácio Lula
da Silva babou na gravata diante de
Fidel Castro.
"Apesar do fato de que sua fisionomia já está marcada por rugas, Fidel,
sua alma permanece limpa, porque
você nunca traiu os interesses de seu
povo", disparou, para acrescentar:
"Obrigado, Fidel, obrigado porque
você continua a existir".
Cada um tem o direito de escolher o
seu ídolo livremente. Mas ditadores
jamais deveriam servir de modelo
para líderes democráticos.
Babar na gravata, então, chega a
ser patético. Mas o que fazer agora
que a baba já foi vertida? Mudar de
opinião só porque chegou ao poder,
como vem sendo a praxe em quase
tudo o que faz o "new PT"?
É feio, não? Repetir a babação de
ovo seria tão feio quanto ou pior, já
que o "new PT" encanta a direita,
que não gosta de elogios a um ditador de esquerda (embora adore ditadores de direita).
Entre parêntesis, sobre a duplicidade de critérios da direita: quando o
MST invade terras, há uma baita gritaria pedindo respeito à lei. Na hora
em que a lei é jogada no lixo, como
ocorre com a MP que legaliza os
transgênicos, a direita silencia ou,
pior ainda, aplaude.
Assim como é seletiva na crítica às
ditaduras, a direita também acha
que só algumas leis, as de seu agrado,
devam ser respeitadas.
Voltando a Cuba: já que fica feio
elogiar demais ou criticar demais,
restaria a Lula a decência mínima de
fazer como Fidel Castro sempre fez
quando veio ao Brasil. O ditador cubano nunca deixou de reunir-se com
Lula, por exemplo, quando o PT era
oposição. Por que Lula não pode,
agora que é governo, reunir-se com os
opositores a Fidel?
Pode. Como pode e, mais que isso,
deve interceder, sim, pelos 26 jornalistas independentes que estão presos,
como pede o grupo Repórteres Sem
Fronteira, que, este sim, não faz distinção entre ditaduras de esquerda e
de direita.
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