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São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Fazer o que Fidel sempre fez

SÃO PAULO- Na sua visita anterior a Cuba (em 2001, quando a vitória eleitoral do ano seguinte estava muito longe do horizonte), Luiz Inácio Lula da Silva babou na gravata diante de Fidel Castro.
"Apesar do fato de que sua fisionomia já está marcada por rugas, Fidel, sua alma permanece limpa, porque você nunca traiu os interesses de seu povo", disparou, para acrescentar: "Obrigado, Fidel, obrigado porque você continua a existir".
Cada um tem o direito de escolher o seu ídolo livremente. Mas ditadores jamais deveriam servir de modelo para líderes democráticos.
Babar na gravata, então, chega a ser patético. Mas o que fazer agora que a baba já foi vertida? Mudar de opinião só porque chegou ao poder, como vem sendo a praxe em quase tudo o que faz o "new PT"?
É feio, não? Repetir a babação de ovo seria tão feio quanto ou pior, já que o "new PT" encanta a direita, que não gosta de elogios a um ditador de esquerda (embora adore ditadores de direita).
Entre parêntesis, sobre a duplicidade de critérios da direita: quando o MST invade terras, há uma baita gritaria pedindo respeito à lei. Na hora em que a lei é jogada no lixo, como ocorre com a MP que legaliza os transgênicos, a direita silencia ou, pior ainda, aplaude.
Assim como é seletiva na crítica às ditaduras, a direita também acha que só algumas leis, as de seu agrado, devam ser respeitadas.
Voltando a Cuba: já que fica feio elogiar demais ou criticar demais, restaria a Lula a decência mínima de fazer como Fidel Castro sempre fez quando veio ao Brasil. O ditador cubano nunca deixou de reunir-se com Lula, por exemplo, quando o PT era oposição. Por que Lula não pode, agora que é governo, reunir-se com os opositores a Fidel?
Pode. Como pode e, mais que isso, deve interceder, sim, pelos 26 jornalistas independentes que estão presos, como pede o grupo Repórteres Sem Fronteira, que, este sim, não faz distinção entre ditaduras de esquerda e de direita.


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