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ELIANE CANTANHÊDE
Uma no cravo, outra na ferradura
BRASÍLIA - Ao chegar aos EUA, o presidente da República Federativa
do Brasil foi logo informando a que
veio (ou, neste caso, a que foi). Empinou o nariz, criticou a Guerra do Iraque e cobrou respeito à ONU. Nem
por isso deixou de trocar cochichos e
cortesias com George W. Bush.
Ainda nos EUA, deu longa entrevista em que desdenhava o FMI e desancava os sem-terra que andaram
aprontando umas em Brasília. Novo
acordo com o fundo, só se trouxer
"alguma vantagem" para o Brasil.
Quanto aos "companheiros do
MST": "Eles sabem que, com um
comportamento assim, eles não se
ajudam".
Ao chegar hoje a Cuba, o presidente
estará novamente preocupado em se
equilibrar entre um velho amor e um
casamento recente, de conveniência.
Para ser "altivo", mas "equilibrado",
deve ser... ambíguo.
Para o "amor", que é Cuba, dirá
que decidiu viajar à ilha em respeito
à antiga amizade com Fidel Castro e
apesar de desaconselhado por ministros e assessores que temem desgaste
político interno e externo -ante aos
EUA, por exemplo. De quebra, dois
presentes: não receberá adversários
de Fidel e prometerá acordos bilaterais e investimentos privados.
Para não contrariar demasiadamente a comunidade internacional e
o "casamento de interesse" com os
EUA, o presidente deverá cobrar sutilmente de Fidel alguma justiça e
modernidade na área de direitos humanos. Fuzilar e prender dissidentes
políticos é inadmissível. E está fora de
moda, não é, Fidel?
É assim que o presidente do Brasil
vai se equilibrando entre céu e terra,
vermelho e azul, esquerda e direita,
Bush e Fidel. Uma viagem aqui, outra acolá; um dar-de-ombros para o
FMI, um cutucão no MST; um sorriso
daqui, um recado enviesado dali.
Esse presidente em cima do muro
não é tucano. É Lula, do PT, com o
coração em Cuba, mas nem tanto, e a
razão nos EUA, mas nem sempre.
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