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São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Uma no cravo, outra na ferradura

BRASÍLIA - Ao chegar aos EUA, o presidente da República Federativa do Brasil foi logo informando a que veio (ou, neste caso, a que foi). Empinou o nariz, criticou a Guerra do Iraque e cobrou respeito à ONU. Nem por isso deixou de trocar cochichos e cortesias com George W. Bush.
Ainda nos EUA, deu longa entrevista em que desdenhava o FMI e desancava os sem-terra que andaram aprontando umas em Brasília. Novo acordo com o fundo, só se trouxer "alguma vantagem" para o Brasil. Quanto aos "companheiros do MST": "Eles sabem que, com um comportamento assim, eles não se ajudam".
Ao chegar hoje a Cuba, o presidente estará novamente preocupado em se equilibrar entre um velho amor e um casamento recente, de conveniência. Para ser "altivo", mas "equilibrado", deve ser... ambíguo.
Para o "amor", que é Cuba, dirá que decidiu viajar à ilha em respeito à antiga amizade com Fidel Castro e apesar de desaconselhado por ministros e assessores que temem desgaste político interno e externo -ante aos EUA, por exemplo. De quebra, dois presentes: não receberá adversários de Fidel e prometerá acordos bilaterais e investimentos privados.
Para não contrariar demasiadamente a comunidade internacional e o "casamento de interesse" com os EUA, o presidente deverá cobrar sutilmente de Fidel alguma justiça e modernidade na área de direitos humanos. Fuzilar e prender dissidentes políticos é inadmissível. E está fora de moda, não é, Fidel?
É assim que o presidente do Brasil vai se equilibrando entre céu e terra, vermelho e azul, esquerda e direita, Bush e Fidel. Uma viagem aqui, outra acolá; um dar-de-ombros para o FMI, um cutucão no MST; um sorriso daqui, um recado enviesado dali.
Esse presidente em cima do muro não é tucano. É Lula, do PT, com o coração em Cuba, mas nem tanto, e a razão nos EUA, mas nem sempre.


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