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JOÃO SAYAD
Rififi
Parte dos e-mails que chegam
todos os dias é propaganda de remédios para melhorar a performance
sexual, prostituição, anúncios de hotel
(chamados de "spam"). Outra parte
são vírus, detectados pelos programas
antivírus.
Produzir vírus e invadir milhões de
computadores é um jogo. De um lado
do campo, estão os produtores de vírus -quem são? No campo adversário, empresas que produzem programas antivírus, uma combinação de
técnicos competentes, talvez ex-produtores de vírus, e investidores. As
empresas que fazem programas antivírus valem uma fortuna, prestam
bom serviço. Enviar vírus é uma violência. As vítimas somos nós, os usuários da internet.
Os pichadores de paredes se divertem com outro jogo. Sujar as paredes
do edifício mais visível e mais protegido com mensagens cifradas que apenas outros pichadores entendem. A
vítima é São Paulo.
Jogos têm um sentido incompreensível, vencer. Cinco a zero contra o
Chile, 2 000 pontos no jogo de buraco,
têm apenas um significado -o reconhecimento da superioridade do vencedor. O esporte é um tipo de jogo que
não produz vítimas.
Jogar é agir contra o adversário, derrotá-lo. É ato de violência e amor -a
procura do olhar de admiração e reconhecimento do outro. O futebol do
Brasil é amado no mundo inteiro. Vale mais ganhar contra o Brasil do que
contra outros países.
A vida é um jogo. Às vezes, procura
um significado transcendente às regras do jogo e a comunidade de jogadores. Para os homens de fé, Deus dá
sentido a tudo. Para os intelectuais
franceses do pós-guerra, o jogo não
tem sentido, é absurdo.
Na sociedade capitalista, o sentido
do jogo é o dinheiro. O ganhador de
dinheiro procura o reconhecimento
dos jogadores de todos os tipos de jogo.
Há três meses, um grupo de pessoas
alugou uma casa , do outro lado da rua
onde está o Banco Central de Fortaleza. A casa foi disfarçada em loja especializada na venda de grama para jardins. Durante semanas cavaram um
túnel até a caixa-forte do banco, transportando grande quantidade de terra,
sem chamar a atenção.
No dia e hora exatos em que o cofre
guardava R$ 350 milhões em notas
usadas, de numeração desconhecida,
entraram pelo túnel e levaram o dinheiro. Crime perfeito, a menos de
dois detalhes: as notas roubadas pesam 30 toneladas e a suspeita de cumplicidade de alguém que sabia da presença do dinheiro no cofre. Até hoje
não foram descobertos.
Jogo planejado com criatividade,
executado com delicadeza, sem violência, como nas histórias de Arsène
Lupin ou em filmes antigos como Rififi. Obra de arte quando comparado
aos casos grosseiros apresentados nas
CPIs do Congresso ou aos seqüestros
relâmpagos de São Paulo.
A vítima é perfeita -o Banco Central, não os contribuintes. O BC não
depende dos contribuintes, emite para pagar os juros que ele próprio determina. Não inspira compaixão nem
precisa ser compensado pelo prejuízo.
João Sayad escreve às segundas-feiras nesta coluna.
@ - jsayad@attglobal.net
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