São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

Desta vez, vamos?

RIO DE JANEIRO - Há indignação nos meios especializados contra a indicação de "Dois filhos de Francisco" para concorrer ao prêmio de melhor filme estrangeiro na próxima entrega dos Oscars, que acredito seja em março do ano que vem.
Não é novidade a constatação de que tais indicações e tais premiações são geralmente arrancadas a fórceps pelas pressões do marketing, que envolvem dinheiro; e pela mídia, que tem seus eleitos de carteirinha.
Uma vez indicado, se não me engano por uma comissão do Itamaraty, há que montar formidável marketing lá fora, para fazer o representante de nossas cores um dos favoritos e, se possível, o vencedor. Impressionante como, todos os anos, com o mesmo espalhafato, com os mesmos números de criticas favoráveis e os mesmos aplausos das platéias internacionais, a turma trombeteia a vitória prévia do produto nacional. Às vésperas da premiação, manchetes colossais garantem que, desta vez, o Brasil imitará Lula: chegará lá.
A decepção posterior é exaustivamente explicada nos dias seguintes: interferência do poder econômico, dos mercados internos dos países mais ricos etc.
Artistas equilibrados, como Fernanda Montenegro, que bateu na trave com uma de suas atuações (e bem que merecia o Oscar), compreendem aquilo que se pode chamar de "sistema mundial da cinematografia". Outros, nem sempre os produtores, diretores e atores, mas os torcedores da mídia, entregam-se ao choro e ranger de dentes. Denunciam tramóias, subornos, alcovas e camas que determinaram o vencedor e prejudicaram o filme nacional -promovido a pedra angular da arte universal.
O filme indicado para o ano que vem parece que pertence ao baixo clero do cinema nacional. Mandaram-me um DVD, que minha secretária adorou e dele se apoderou, na suposição de que eu detestaria o filme. Não ficarei surpreendido se desta vez ganharmos finalmente o Oscar.


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