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CARLOS HEITOR CONY
Desta vez, vamos?
RIO DE JANEIRO - Há indignação nos meios especializados contra a indicação de "Dois filhos de Francisco"
para concorrer ao prêmio de melhor
filme estrangeiro na próxima entrega
dos Oscars, que acredito seja em março do ano que vem.
Não é novidade a constatação de
que tais indicações e tais premiações
são geralmente arrancadas a fórceps
pelas pressões do marketing, que envolvem dinheiro; e pela mídia, que
tem seus eleitos de carteirinha.
Uma vez indicado, se não me engano por uma comissão do Itamaraty,
há que montar formidável marketing
lá fora, para fazer o representante de
nossas cores um dos favoritos e, se
possível, o vencedor. Impressionante
como, todos os anos, com o mesmo
espalhafato, com os mesmos números
de criticas favoráveis e os mesmos
aplausos das platéias internacionais,
a turma trombeteia a vitória prévia
do produto nacional. Às vésperas da
premiação, manchetes colossais garantem que, desta vez, o Brasil imitará Lula: chegará lá.
A decepção posterior é exaustivamente explicada nos dias seguintes:
interferência do poder econômico,
dos mercados internos dos países
mais ricos etc.
Artistas equilibrados, como Fernanda Montenegro, que bateu na
trave com uma de suas atuações (e
bem que merecia o Oscar), compreendem aquilo que se pode chamar
de "sistema mundial da cinematografia". Outros, nem sempre os produtores, diretores e atores, mas os torcedores da mídia, entregam-se ao
choro e ranger de dentes. Denunciam
tramóias, subornos, alcovas e camas
que determinaram o vencedor e prejudicaram o filme nacional -promovido a pedra angular da arte universal.
O filme indicado para o ano que
vem parece que pertence ao baixo
clero do cinema nacional. Mandaram-me um DVD, que minha secretária adorou e dele se apoderou, na
suposição de que eu detestaria o filme. Não ficarei surpreendido se desta
vez ganharmos finalmente o Oscar.
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