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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

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NÃO É SÓ A BENEDITA

Algumas vozes têm se levantado em defesa da ministra Benedita da Silva, que estaria sendo excessivamente exposta e criticada em razão de sua viagem a Buenos Aires, paga com dinheiro público, para participar de um encontro religioso. Há um sentimento de que as censuras estariam ligadas ao fato de ser a ministra uma negra de origem pobre. Haveria excesso de rigor ou em decorrência de preconceito ou de zelo exagerado para evitar um tratamento paternalista do caso.
É verdade que possivelmente viveríamos no mais probo dos países se os casos de irregularidade envolvendo dinheiro público se resumissem a passagens aéreas. Não há, no entanto, nenhuma norma que estabeleça um limite tolerável para o uso indevido dos recursos do contribuinte, o que coloca a ministra numa situação eticamente difícil.
Benedita da Silva, no entanto, não está sozinha. Revelou-se agora que o seu colega do Ministério dos Esportes, Agnelo Queiroz, teve suas despesas nos Jogos Pan-Americanos, realizados na República Dominicana, pagas pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Mesmo assim, Queiroz não havia devolvido o dinheiro do governo que requisitara para a viagem.
O caso parece mais grave do que o de Benedita. Além de ter permanecido com a verba, o ministro foi agraciado com favor de uma entidade sobre a qual seu ministério deve exercer autoridade. De certa forma, seria como se o ministro Palocci, da Fazenda, tivesse despesas de viagem pagas pela CUT ou pela Fiesp. Para piorar a já espinhosa situação de Queiroz, havia sido ele, como deputado, um dos artífices da lei que passou a transferir ao COB recursos de loterias federais, tendo com isso despertado a eterna gratidão da entidade.
Decide agora, o governo, depois de arrombada a porta, exercer maior vigilância sobre as viagens. É bom que o faça. É de perguntar, no entanto, se o petismo, outrora implacável quando se tratava de ocorrências semelhantes em governos aos quais se opunha, não deveria tomar medidas mais efetivas.
Não é demais lembrar que o governo também tem abrigado em seu ministério um outro protagonista de caso bombástico. Trata-se do ministro dos Transportes, Anderson Adauto, que teria recebido ao longo de dois anos, a título de vencimentos, como presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, a quantia de R$ 2,62 milhões. Por mais que o ministro alegue ter simplesmente dado prosseguimento a uma situação anterior, o fato é que se trata de algo descabido. Aceitar vencimentos da ordem de R$ 129 mil mensais, como o fez em 2001, pode ser conveniente, mas definitivamente não é uma atitude ética. É, sim, uma afronta. Não obstante o PT preserva o aliado do PL numa das mais importantes pastas federais. O mundo, de fato, dá muitas voltas.


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