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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Feliz Ano Novo

SÃO PAULO - A estação paulistana das chuvas costuma chegar ali por Finados. A mistura de chuvisco e fuligem faz brotar nas lojas a medonha decoração de Natal, que não era de aparecer antes de meados de novembro. Mas a crise faz o comércio das "Boas Festas" atropelar o dia dos mortos. Se o BC não se emendar, talvez a liquidação de Ano Novo ainda venha a começar no dia da Proclamação da República.
O simpático ministro Palocci dizendo inanidades na TV lembrou presidentes em mensagens de final de ano. Com barba de algodão, Palocci passaria por Papai Noel. "Que tudo se realize no ano que vai nascer! Ho, ho, ho, invistam! A crise passou!" Passou?
O que foi feito do ano sob Lula?
Os vexames previsíveis. O PT se travestir ideologicamente em público. A pindaíba após a ruína final de FHC.
As gafes menores ou velhas: o PT nem cometeu erros novos. Benedita, Agnelo e sabe lá que outros ministros viajantes. Pequenos nepotismos, despotismos e politiquices: Incra, Saúde e Receita. Tiroteio de ministros no concerto da Alca. O veado e a galinha do ministro da Justiça. A fineza de espírito do meu ministro inesquecível, Guido Mantega, que fez piada dos mortos do foguete brasileiro.
A "fase 2" não veio. Os transgênicos ficaram. A reforma tributária se foi, um erro político tolo discutir partilha de dinheiro em ano de penúria.
Pouca gente, menos de uma dúzia, manda no governo: centralismo demais, erros demais. O Congresso segue com seus dois partidos de sempre, oposição e governo.
O governo cai no conto mercadista: "O país fez ajuste externo sem o PIB encolher. Noutros países o PIB caiu." Cascata. China e Índia não fizeram ajuste. No Sudeste da Ásia, a economia encolheu, depois disparou. O Brasil está parado há três anos.
Os economistas no governo e seus mentores tricotam teias liberais, como fazem desde 1988, com mais ou menos alarde. Umas prestam, outras menos. Economistas em geral erraram mais que de costume: não se conhece direito a nova economia brasileira. O país pode dar chabu ou subir num rabo de foguete. Pode subir e estourar também. E o governo?


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