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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Dirceu, o bonzinho

BRASÍLIA - Notícia para os que acham que o ministro José Dirceu (Casa Civil) é o malvado do governo, que está por trás de todos os males do funcionalismo, do MST, dos ambientalistas, dos educadores e dos profissionais de saúde: ele agora está virando bonzinho.
Explica-se: o governo vive em pé de guerra com o próprio governo, e Dirceu decidiu assumir o lado "do bem", não deixando os ministros descontentes falando sozinhos.
Quem esteve conversando com Humberto Costa (Saúde), Marina Silva (Meio Ambiente), Cristovam Buarque (Educação), entre outros, pode até ter ouvido queixas contra o núcleo duro, ou politburo, que discute, decide e manda em tudo e em todos. Mas com ressalvas para Dirceu.
O Planalto andou usando jeitinhos para cortar verbas da Saúde, para surrupiar recursos da Educação e para retirar poder de Marina na discussão sobre os transgênicos e sobre a CTNBio (a comissão de biossegurança). Sempre que se ouvia ou se lia "Planalto", lia-se e ouvia-se "Dirceu". A coisa, porém, mudou.
Com o governo insistentemente acusado de estar repetindo FHC e de estar sendo insensível às velhas bandeiras petistas, Dirceu resolveu ouvir mais as reivindicações não só dos ministros mas dos setores que eles representam no governo. O malvado decidiu virar bonzinho. Ou então percebeu que esse descolamento do governo PT com as velhas bandeiras do PT não iria dar em boa coisa.
Foi assim que Dirceu articulou a compensação dos recursos para a Saúde, aproximou-se de Marina e de suas posições em relação aos transgênicos e tenta se solidarizar com Cristovam Buarque pela pindaíba na Educação. Em geral, as soluções configuram meios-termos. Mas é melhor isso do que nada.
O fato é que, agora, os malvados são Palocci (Fazenda) e Gushiken (polivalente). Enquanto o Lulinha deixa o pau quebrar, tentando ficar bem com todos os ministros. Quem pode pode, quem não pode se sacode. Ou pede socorro ao Dirceu.


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