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ELIANE CANTANHÊDE
Muito pior do que asneiras
BRASÍLIA - Para o geneticista
norte-americano James Watson,
"as experiências" mostram que a
inteligência dos africanos (negros)
não é igual à "nossa" (dele, que é
branco), e citou uma dessas "experiências": "Quem tem que lidar com
empregados negros sabe que isto
não é verdade".
E olha que Watson não é qualquer um. É um pioneiro em pesquisas com DNA e ganhador do Prêmio
Nobel de Medicina em 1962.
Para o juiz Edilson Rumbelsperger Rodrigues, de Sete Lagoas
(MG), a Lei Maria da Penha, que aumenta as penas para agressões contra mulheres, é inconstitucional e
apenas um "conjunto de regras diabólicas". E explicou: "O mundo é
masculino" e "a desgraça humana
começou por causa da mulher".
E olha que Rumbelsperger Rodrigues não é qualquer um. É juiz, num
país onde ainda há milhares ou milhões de analfabetos.
Para o governador Sérgio Cabral
(PMDB), do Rio, o aborto pode ser
um bom remédio contra a violência. Mas o aborto para as mulheres
pobres, evidentemente, porque ele
considera que as altas taxas de fertilidade nas favelas são "uma fábrica
de produzir marginal".
E olha que Cabral não é qualquer
um. É governador de um dos três
principais Estados do Brasil e um
nome em ascensão na política nacional, lembrado até para 2010.
Depois de dizerem o que queriam
e ouvirem o que não queriam, o geneticista Watson, o juiz Rumbelsperger e o governador Cabral estão,
um atrás do outro, tentando explicar que não era bem assim e se desculpando por dizerem "asneiras".
Não, meus caros, não foi. O que
vocês disseram foi muito mais profundo e mais grave do que meras asneiras, pelo caráter do que foi dito e
pelo grau de responsabilidade de
quem o disse. Cada passo à frente
contra o racismo e o preconceito
exige enorme esforço. Coisas assim
são milhões de passos atrás.
Em que mundo estamos? E onde
vamos afinal parar?
elianec@uol.com.br
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