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CLÓVIS ROSSI
Quem pare a violência
MADRI - Não conheço o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho. Não
sei se sua gestão é boa, ruim ou péssima, mas é indiscutível que o rapaz
é corajoso, ao menos no falar. Toca
em assuntos tabus, como foi o caso,
mal assumiu, da presença das Forças Armadas no combate à violência urbana.
Agora Cabral entra no pantanoso
terreno da suposta ligação entre a
fertilidade das mães pobres e a criminalidade. Sua teoria de que as taxas de fertilidade de mães faveladas
são "uma fábrica de produzir marginal" é de um preconceito notável.
Pode-se dar mil voltas à frase, mas
ela equivale a dizer que pobre gera
marginal e ponto final.
Mas há outra parte da frase que
merece um segundo olhar.
É quando o governador diz que
parte das mães moradoras de áreas
carentes "está produzindo crianças,
sem estrutura, sem conforto familiar e material". E acrescenta que
essas mulheres não receberem
"orientação do governo em questões de planejamento familiar dos
órgãos de saúde".
Muito bem. Primeiro ponto: falta
de "estrutura" e de "conforto familiar" não é problema só de famílias
carentes. Há famílias que têm e oferecem "conforto material", o que
não impede que os filhos sejam criminosos. Basta ver a lista dos chamados criminosos de colarinho
branco, de amplo "conforto material". Podem até não ser violentos,
mas são delinqüentes.
Segundo ponto: planejamento familiar é, de fato, um problema a ser
enfrentado, não para que os pobres
tenham menos filhos porque são
pobres, mas para que tenham filhos
aos quais possam oferecer as melhores condições possíveis dentro
da realidade brasileira.
Tudo somado, de fato, o Brasil é
"uma fábrica de produzir marginal", mas a culpa não é das "parideiras", e sim de uma estrutura social
obscena e de um Estado incapaz de
impor o monopólio da coerção que
lhe é inerente.
crossi@uol.com.br
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