São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2010

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LUIZ FERNANDO VIANNA

Vale-tudo

RIO DE JANEIRO - A campanha eleitoral seria mais civilizada se, antes de dormir, Dilma Rousseff e José Serra assistissem à reprise de "Vale Tudo", exibida à 0h45 no canal pago Viva.
Presente em qualquer lista das nossas cinco melhores telenovelas, a história de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères é um retrato perfeito de tão cruel do Brasil de 1988, que afundava sob José Sarney no pântano de onde emergiria no ano seguinte o falso herói Fernando Collor.
(E não adianta os aliados de Serra levantarem as clavas para dizer que esses dois ex-presidentes hoje apoiam Lula e Dilma. Muitos próceres da combinação PSDB-DEM eram governistas fanáticos naquela época -como em tantas outras.)
A satisfação que a novela proporciona não vem apenas de seus ótimos diálogos. Vem também da comparação com o Brasil de hoje, cujos avanços sociais e econômicos são resultado dos 16 anos de Fernando Henrique + Lula.
Os personagens falam o tempo todo em inflação (a acumulada de 1988 foi de 1.037,56%), na mudança diária dos preços, na rotina das aplicações no overnight, no sonho do "ganhar em dólar", em desemprego, em subemprego.
O princípio de querer levar vantagem em tudo está no taxista que faz um caminho mais longo, no uísque batizado pelo garçom, no ambulante que tenta enganar o turista na praia etc.
Não se trata de ser otimista como o Poliana da novela ou tolo como a boazinha Raquel. O Brasil continua sendo um paraíso apenas para as Odetes Roitman e os Marcos Aurélios que nossa porca distribuição de renda faz ainda mais ricos.
Mas são nítidas as conquistas do país, e Dilma e Serra seriam maiores se mostrassem como contribuíram para elas. Preferiram se perder em bolinhas de papel e dogmas medievais, lambuzando-se num vale-tudo que pede anacronismo.


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