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LUIZ FERNANDO VIANNA
Vale-tudo
RIO DE JANEIRO - A campanha
eleitoral seria mais civilizada se,
antes de dormir, Dilma Rousseff e
José Serra assistissem à reprise de
"Vale Tudo", exibida à 0h45 no canal pago Viva.
Presente em qualquer lista das
nossas cinco melhores telenovelas,
a história de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères é um
retrato perfeito de tão cruel do Brasil de 1988, que afundava sob José
Sarney no pântano de onde emergiria no ano seguinte o falso herói
Fernando Collor.
(E não adianta os aliados de Serra levantarem as clavas para dizer
que esses dois ex-presidentes hoje
apoiam Lula e Dilma. Muitos próceres da combinação PSDB-DEM
eram governistas fanáticos naquela
época -como em tantas outras.)
A satisfação que a novela proporciona não vem apenas de seus ótimos diálogos. Vem também da
comparação com o Brasil de hoje,
cujos avanços sociais e econômicos
são resultado dos 16 anos de Fernando Henrique + Lula.
Os personagens falam o tempo
todo em inflação (a acumulada de
1988 foi de 1.037,56%), na mudança diária dos preços, na rotina das
aplicações no overnight, no sonho
do "ganhar em dólar", em desemprego, em subemprego.
O princípio de querer levar vantagem em tudo está no taxista que
faz um caminho mais longo, no uísque batizado pelo garçom, no ambulante que tenta enganar o turista
na praia etc.
Não se trata de ser otimista como
o Poliana da novela ou tolo como a
boazinha Raquel. O Brasil continua
sendo um paraíso apenas para as
Odetes Roitman e os Marcos Aurélios que nossa porca distribuição de
renda faz ainda mais ricos.
Mas são nítidas as conquistas do
país, e Dilma e Serra seriam maiores se mostrassem como contribuíram para elas. Preferiram se perder
em bolinhas de papel e dogmas medievais, lambuzando-se num vale-tudo que pede anacronismo.
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