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ANTONIO DELFIM NETTO
Bom senso, graças a Deus
A chamada "reforma tributária"
que se discutiu na Câmara e agora se ajeita no Senado tem alguns méritos, o mais importante dos quais é
dar governabilidade ao país. Com a
aprovação ainda neste ano da CPMF
(como provisória) no nível de 0,38% e
da desvinculação das receitas da
União (DRU) em 20%, permitir-se-á
uma administração financeira do Tesouro razoavelmente virtuosa ao longo dos próximos anos. O Fundo de
Compensação dos Estados Exportadores deverá garantir e acelerar as indenizações pelos governantes que deixam de cumprir a lei e, portanto, estimular o setor. A prorrogação dos incentivos da Zona Franca de Manaus
(até 2023) e da Lei de Informática (por
mais dez anos) deverá acelerar os investimentos nos respectivos campos.
São medidas que "acomodam" e não
aumentam a carga tributária. Devem,
portanto, criar um ambiente propício
a um quadro de desenvolvimento.
As outras medidas que deverão também ser aprovadas neste ano, para vigorar em 2004, são todas promotoras
de uma aceleração do crescimento
econômico:
1. o fim da cumulatividade da Cofins
deve reduzir significativamente as distorções sobre o sistema de preços e,
portanto, contribuir para uma alocação mais eficiente dos fatores de produção, aumentando a produtividade
geral da economia. É claro que a exigência de produzir a mesma receita
implicará brutais transferências de
cargas entre setores, o que deverá ser
analisado em 2004;
2. a aprovação do "Super Simples" e
a recomendação constitucional da desoneração das exportações, da folha
de pagamentos e dos bens de capital
serão fatores importantes no desenvolvimento da economia brasileira.
3. não se pode dizer o mesmo sobre
o "fatiamento" da Cide, que, ao lado
da função primordial de financiar a
infra-estrutura, deveria ser uma espécie de colchão para estabilizar os preços dos combustíveis, isolando-os,
numa certa medida, das flutuações
dos preços externos. A análise empírica revela que a volatilidade dos preços
dos combustíveis é um importante fator de inibição do crescimento econômico.
A segunda fase da "reforma" (que
deverá retornar à Câmara em 2004),
que diz respeito basicamente ao
ICMS, felizmente foi postergada. O
projeto original do governo era ingênuo (para dizer o menos!). O que devemos fazer agora é imprimir velocidade máxima às leis complementares
exigidas para a entrada em vigor da
primeira fase e antecipar seus benefícios.
A economia brasileira carece é de
uma verdadeira reforma tributária,
que seja capaz, pela ampliação da base
imponível, de começar a reduzir a fantástica carga tributária que a sufoca.
Que elimine a burocracia e atraia para
a formalidade empregados e empregadores que estão à margem do sistema: quase "marginais" por necessidade de sobrevivência! Um trabalho do
Sebrae-SP mostra que dois terços dos
empreendedores não têm registro nas
prefeituras e não possuem o Cadastro
Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ).
E que pelo menos metade da força de
trabalho não possui carteira de trabalho!
É por aqui que deveríamos começar...
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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