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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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CLAUDIA ANTUNES

Silêncio mal-educado

RIO DE JANEIRO - Tirando Benedita da Silva, ninguém do governo Lula tem sido mais atacado do que o presidente do BNDES, Carlos Lessa. A diferença é que, enquanto a ministra manda cada vez menos, Lessa administra um orçamento bilionário. Benedita pode passar semanas sem abrir a boca, aparecendo como figurante de cerimônias oficiais de pouca ou nenhuma relevância. Lessa não passa um dia sem falar o que pensa e sem tomar decisões importantes sobre investimentos.
Daí que é muito estranho, para dizer o mínimo, o silêncio da cúpula do Planalto sobre a situação dele. Lula passou a mão na cabeça de Benedita no episódio da viagem para um encontro religioso na Argentina, defendeu os serviços prestados por Berzoini diante da indignação pelo tratamento burocrático e desumano dispensado a parte dos aposentados e respondeu de bate-pronto à crítica de João Pedro Stedile a Palocci.
Sobre Lessa, nem um pio. Nem Lula nem Furlan, a cuja pasta o banco está subordinado, comentam em público as críticas a Lessa, seja para defendê-lo, seja para anunciar que dispensam os seus serviços. Protegidos pelo anonimato, os detratores de Lessa dentro do governo alimentam notícias de que ele levou "pitos" e de que suas decisões não agradam à Fazenda. Ontem, uma viagem dele a Brasília causou nova onda de boatos.
É uma atitude covarde e indelicada. Para alguns, o presidente vem mantendo Lessa no cargo porque teme abrir mais uma frente de conflito com a esquerda -e olhem que o economista nunca foi filiado ao PT. Outros dizem que Lula gosta de alimentar o debate entre diferentes linhas de pensamento econômico abrigadas na sua equipe.
Mas a hipótese benevolente de que o governo estaria em busca de uma "síntese de teorias" não combina com a realidade. Na prática, a única preocupação do Planalto é não assustar o mercado, e só quem emite "sinais positivos" para esse grupo seleto pode ser considerado irremovível.


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