|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLAUDIA ANTUNES
Silêncio mal-educado
RIO DE JANEIRO - Tirando Benedita
da Silva, ninguém do governo Lula
tem sido mais atacado do que o presidente do BNDES, Carlos Lessa. A diferença é que, enquanto a ministra
manda cada vez menos, Lessa administra um orçamento bilionário. Benedita pode passar semanas sem
abrir a boca, aparecendo como figurante de cerimônias oficiais de pouca
ou nenhuma relevância. Lessa não
passa um dia sem falar o que pensa e
sem tomar decisões importantes sobre investimentos.
Daí que é muito estranho, para dizer o mínimo, o silêncio da cúpula do
Planalto sobre a situação dele. Lula
passou a mão na cabeça de Benedita
no episódio da viagem para um encontro religioso na Argentina, defendeu os serviços prestados por Berzoini
diante da indignação pelo tratamento burocrático e desumano dispensado a parte dos aposentados e respondeu de bate-pronto à crítica de João
Pedro Stedile a Palocci.
Sobre Lessa, nem um pio. Nem Lula
nem Furlan, a cuja pasta o banco está subordinado, comentam em público as críticas a Lessa, seja para defendê-lo, seja para anunciar que dispensam os seus serviços. Protegidos pelo
anonimato, os detratores de Lessa
dentro do governo alimentam notícias de que ele levou "pitos" e de que
suas decisões não agradam à Fazenda. Ontem, uma viagem dele a Brasília causou nova onda de boatos.
É uma atitude covarde e indelicada. Para alguns, o presidente vem
mantendo Lessa no cargo porque teme abrir mais uma frente de conflito
com a esquerda -e olhem que o economista nunca foi filiado ao PT. Outros dizem que Lula gosta de alimentar o debate entre diferentes linhas de
pensamento econômico abrigadas na
sua equipe.
Mas a hipótese benevolente de que
o governo estaria em busca de uma
"síntese de teorias" não combina com
a realidade. Na prática, a única preocupação do Planalto é não assustar o
mercado, e só quem emite "sinais positivos" para esse grupo seleto pode
ser considerado irremovível.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Lula, Mercosul e os árabes Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Bom senso, graças a Deus Índice
|