São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

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O "NOVO" GOVERNO

A notícia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cogita nomear a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) para a pasta do Planejamento demonstra quão longe o Planalto se dispõe a ir na tentativa de consolidar sua nova base de apoio no Legislativo. A articulação para a ex-governadora filiar-se ao PMDB e assumir o ministério ocorre em meio a um emaranhado de negociações coordenadas de perto pelo próprio presidente da República.
Vai-se repetindo com a administração petista uma circunstância que não é nova na política brasileira: o declínio do prestígio político do Executivo o torna mais vulnerável às demandas dos partidos, compelindo-o a ampliar o leque de aliados no governo. O caminho para apaziguar a crise é liberar verbas e lotear ministérios -dentre os quais os mais disputados são os que possuem alguma projeção e "caneta". Em resumo, trata-se de "pagar" para governar, segundo a lamentável lógica do "é dando que se recebe".
É nesse cenário que se vão desenhando os contornos do que deverá ser o governo na segunda metade do mandato de Lula. O Planalto procura conquistar uma base fisiológica mais estável, que possa não apenas desembaraçar seus projetos no Legislativo mas, preferencialmente, acompanhá-lo até o pleito de 2006. Ao mesmo tempo, trata de eliminar o que restava de ambigüidades na seara petista. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fica definitivamente no papel de homem forte, enquanto o titular da Casa Civil, José Dirceu, já não é nem uma sombra do "superministro" que antes pareceu ser.
Assim, o presidente dobra a aposta na atual política econômica, esperando que ela acabe por surtir efeitos mais palpáveis nos próximos dois anos. Paralelamente, inclina-se por ampliar sua presença pessoal na cena política, apresentando-se como fiador da nova "coalizão" -que reserva lugar destacado para o PMDB.
Se já era difícil acreditar que o governo poderia, a essa altura, mostrar algum lampejo de arrojo e imaginação, no quadro que se afigura as perspectivas se tornam ainda mais estreitas. Os compromissos com mudanças vão sendo trocados pelas ambições eleitorais num contexto marcado pelos mesmos vícios políticos que um dia o PT tanto combateu.


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