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O "NOVO" GOVERNO
A notícia de que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva cogita
nomear a senadora Roseana Sarney
(PFL-MA) para a pasta do Planejamento demonstra quão longe o Planalto se dispõe a ir na tentativa de
consolidar sua nova base de apoio no
Legislativo. A articulação para a ex-governadora filiar-se ao PMDB e assumir o ministério ocorre em meio a
um emaranhado de negociações
coordenadas de perto pelo próprio
presidente da República.
Vai-se repetindo com a administração petista uma circunstância que
não é nova na política brasileira: o
declínio do prestígio político do Executivo o torna mais vulnerável às demandas dos partidos, compelindo-o
a ampliar o leque de aliados no governo. O caminho para apaziguar a
crise é liberar verbas e lotear ministérios -dentre os quais os mais disputados são os que possuem alguma
projeção e "caneta". Em resumo, trata-se de "pagar" para governar, segundo a lamentável lógica do "é dando que se recebe".
É nesse cenário que se vão desenhando os contornos do que deverá
ser o governo na segunda metade do
mandato de Lula. O Planalto procura
conquistar uma base fisiológica
mais estável, que possa não apenas
desembaraçar seus projetos no Legislativo mas, preferencialmente,
acompanhá-lo até o pleito de 2006.
Ao mesmo tempo, trata de eliminar
o que restava de ambigüidades na
seara petista. O ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, fica definitivamente
no papel de homem forte, enquanto
o titular da Casa Civil, José Dirceu, já
não é nem uma sombra do "superministro" que antes pareceu ser.
Assim, o presidente dobra a aposta
na atual política econômica, esperando que ela acabe por surtir efeitos
mais palpáveis nos próximos dois
anos. Paralelamente, inclina-se por
ampliar sua presença pessoal na cena política, apresentando-se como
fiador da nova "coalizão" -que reserva lugar destacado para o PMDB.
Se já era difícil acreditar que o governo poderia, a essa altura, mostrar
algum lampejo de arrojo e imaginação, no quadro que se afigura as
perspectivas se tornam ainda mais
estreitas. Os compromissos com
mudanças vão sendo trocados pelas
ambições eleitorais num contexto
marcado pelos mesmos vícios políticos que um dia o PT tanto combateu.
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