São Paulo, sexta-feira, 26 de novembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Viva a barbárie

SÃO PAULO - Foi no interior do México, mas acabará acontecendo no Brasil, cedo ou tarde. Uma multidão enfurecida matou dois agentes da Polícia Federal, queimou seus corpos e ainda tentou evitar que os companheiros resgatassem os mortos.
Foram confundidos com seqüestradores em um local sob extrema tensão depois que dois colegiais foram seqüestrados em uma semana.
Argumento dos linchadores, segundo relato do jornal espanhol "El País": já que não podem confiar na polícia, resolveram fazer justiça pelas próprias mãos.
Não há grandes diferenças entre a situação no México e no Brasil em matéria de segurança pública. E é importante citar o México porque muita gente boa acha que o país é um baita modelo porque fez acordo com os Estados Unidos, ao contrário do Brasil, e segue o modelito universal de política econômica.
No entanto nem o modelito nem o acordo com os Estados Unidos foram capazes de banir a selvageria do cotidiano dos mexicanos. Aqui é a mesma coisa: banalizou-se de tal forma a barbárie que os jornais noticiaram de passagem, no caso do assassinato por seqüestradores do vice-prefeito de Ibiúna, Armando Giancoli, que havia, naquele momento, mais meia dúzia de pessoas no cativeiro no Estado de São Paulo.
Assim, ligeiramente, como se ficar no cativeiro fosse a rotina de vida na cidade (ou no Estado).
Muita gente acha que a barbárie no cotidiano é culpa do modelo econômico. Pode até ser, mas nem é preciso ser radical. Basta comprovar -o que ninguém pode negar sem mentir- que o modelo foi incapaz de devolver as sociedades latino-americanas à civilização ou de impedir que resvalassem mais e mais para a barbárie.
No Brasil, só faltam linchamentos como os do México porque a sociedade brasileira é de uma passividade alucinante. Enquanto isso, Lula diz que nem discute a política econômica. OK, viva a barbárie.


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