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CLÓVIS ROSSI
Viva a barbárie
SÃO PAULO - Foi no interior do México, mas acabará acontecendo no
Brasil, cedo ou tarde. Uma multidão
enfurecida matou dois agentes da
Polícia Federal, queimou seus corpos
e ainda tentou evitar que os companheiros resgatassem os mortos.
Foram confundidos com seqüestradores em um local sob extrema tensão depois que dois colegiais foram
seqüestrados em uma semana.
Argumento dos linchadores, segundo relato do jornal espanhol "El
País": já que não podem confiar na
polícia, resolveram fazer justiça pelas
próprias mãos.
Não há grandes diferenças entre a
situação no México e no Brasil em
matéria de segurança pública. E é
importante citar o México porque
muita gente boa acha que o país é um
baita modelo porque fez acordo com
os Estados Unidos, ao contrário do
Brasil, e segue o modelito universal
de política econômica.
No entanto nem o modelito nem o
acordo com os Estados Unidos foram
capazes de banir a selvageria do cotidiano dos mexicanos. Aqui é a mesma coisa: banalizou-se de tal forma a
barbárie que os jornais noticiaram
de passagem, no caso do assassinato
por seqüestradores do vice-prefeito
de Ibiúna, Armando Giancoli, que
havia, naquele momento, mais meia
dúzia de pessoas no cativeiro no Estado de São Paulo.
Assim, ligeiramente, como se ficar
no cativeiro fosse a rotina de vida na
cidade (ou no Estado).
Muita gente acha que a barbárie no
cotidiano é culpa do modelo econômico. Pode até ser, mas nem é preciso
ser radical. Basta comprovar -o que
ninguém pode negar sem mentir-
que o modelo foi incapaz de devolver
as sociedades latino-americanas à civilização ou de impedir que resvalassem mais e mais para a barbárie.
No Brasil, só faltam linchamentos
como os do México porque a sociedade brasileira é de uma passividade
alucinante. Enquanto isso, Lula diz
que nem discute a política econômica. OK, viva a barbárie.
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